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O que significa Réveillon?

Superstições, celebrações, análises e planejamentos são parte desta época do ano. Histórica, antropológica e psicologicamente, há muito o que contar
15:30 | Dez. 30, 2018
Autor Lucas Braga
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Lucas Braga Repórter do O POVO Online
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Tipo Notícia
O verbo reflexivo "se réveiller", do francês, é "acordar-se", "despertar". Um estado de alerta ao que está por vir. O sentido comum a nós é o da vigília ao ano que chega, um nascimento.
 
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O "réveillon", até o século XIX, costumava significar a ceia natalina e depois a ceia da noite do dia 31 de dezembro. Não demorou muito para o termo ser popularizado como a festa de virada do ano, seja em celebrações com os amigos, família ou até desconhecidos.
  
A verdade é que a data nem sempre foi de turismo, superstições ou celebrações luxuosas. Pré-historicamente, a época mais fria no hemisfério Norte é o que nosso calendário gregoriano hoje chama dezembro. Então, à época, o ano começava junto à primavera, em 23 de março, quando do plantio das culturas adequadas. Daí a ideia de recomeço. Ciclos e safras.
  
>> O 1º de janeiro só virou dia do ano novo em 1582, com a introdução do calendário gregoriano no Ocidente.
  
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Rituais
A psicoterapeuta Virgínia Moreira fala sobre a funcionalidade do Réveillon enquanto momento de passagem. Ela é professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) e pós-doutora em Medicina Antropológica pela Escola de Medicina da Harvard University, nos Estados Unidos. 
 
Virgínia lembra que os rituais, como os de luto e morte; casamento, aniversário e eventos intrinsecamente religiosos, têm funções para diversos povos, em diversas épocas. A diferença está em o Réveillon ser um ritual generalizado. Afinal, ainda que cronologicamente, o ano vai mudar para todo mundo.
  
De acordo com pesquisadores ouvidos pela revista Superinteressante, povos da Mesopotâmia celebravam o ano novo há cerca de 4 mil anos. A passagem era comumente determinada pelas fases da lua ou pelas mudanças das estações. 
  
Não é a data cronológica em si - vide outras culturas contemporâneas -, mas o rito de mudança que nos aproxima da compreensão de finitude. “E em sentido positivo. É um momento de reflexão, de avaliação, de fechar ciclos, de tomar novas decisões. Faz com que entremos em contato com essas dimensões do tempo vivido, espaços ocupados. O ritual de passagem do ano coloca o indivíduo em contato consigo mesmo”, resume Virgínia. 
  
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A psicóloga clínica Roselany Varela, de orientação junguiana, analisa ainda que o Réveillon, enquanto período de passagem do ano do calendário, é “significativo do ponto de vista social e psicológico”. “No Brasil, temos essa tendência de sincretizar práticas de várias tradições e simbolismos diferentes, como religiosos e esotéricos nesse período”, completa. 
  
Lentilhas, romãs, velas. Oferendas, roupas brancas, peças íntimas coloridas e pulo das sete ondas. Os níveis de crenças, práticas e até dedicação a este período variam. 
  
Para o universitário Colombo Bandeira, 22, o fim do ano é época de “renovar esperanças e planejar o ano que chega”. Para isso, são costumes dele limpar a casa, “deixando tudo bem ajeitado”, além, claro, de comer uvas durante a virada. 
  
“A superstição depende do significado que cada um atribui a ela na sua vida. Está no caminho de cada um. Na prática clínica de psicoterapia, no meu consultório, respeito muito essas escolhas”, acrescenta Virgínia. Como a fé, as crenças e o lado espiritual do ser humano são parte do equilíbrio. Ela concorda que a espiritualidade está ligada à saúde física e mental.
 

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