Vai levar tempo até que se desfaça a impressão de que o clã Bolsonaro atirou um aliado aos leões ao primeiro sinal de perigo. Isso produz feridas na base parlamentar, ainda incipiente, e no governo, totalmente inexperiente. Do presidente ao auxiliar, não parece haver alguém no Planalto capaz de chamar o feito à ordem, como se diz. Uns estabanados. Senão, vejamos. Do estouro da crise, na última quarta-feira, até ontem, dia D da demissão, a novela Bebianno tem capítulos graves para os quais contribuiu decisivamente a inabilidade do Governo. Mas não é apenas que o presidente tenha escorregado nessa seara. Há uma desinteligência política a produzir crises em série no Executivo, e isso é o que de fato deveria preocupar. Basta que se note que, ainda nessa segunda-feira, depois de prolongar a exoneração de um ministro já virtualmente descartado por infindáveis três dias, Bolsonaro, sem entender que só piorava a situação, tentou contornar o problema oferecendo embaixadas e cargos de direção em estatal para o colega demissionário, que, num rasgo de republicanismo, recusou todas as ofertas. Tudo à luz do dia, para espanto de ninguém. Em seguida, demitiu-o, depois de o próprio filho já o ter feito quando foi ao Twitter e chamou o auxiliar de mentiroso, com aval do pai. No Governo, Bebianno era reimoso. Fora, é radioativo. Há quem diga que o episódio envolvendo o ex-ministro é prejudicial para o andamento da reforma da Previdência. Não é. Queira-se ou não, a reforma tem vida própria. Se não for adiante pelas mãos de Bolsonaro, irá pelas de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara cujos interesses estão além da cadeira que ocupa hoje. Mas o governo, este sai muito avariado. É como se, no curso da peleja entre o filho e o amigo, Bolsonaro houvesse apresentado o seu cartão de visitas. E os deputados, acostumados a toda sorte de extravagância e punhaladas pelas costas, não gostaram do que viram.