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Crise na Venezuela
Opinião

Crise na Venezuela

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Martonio Mont'Alverne Barreto Lima
Professor doutor da Universidade de Fortaleza - Unifor
barreto@unifor.br (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Martonio Mont'Alverne Barreto Lima Professor doutor da Universidade de Fortaleza - Unifor barreto@unifor.br

Desde 1958, com o Pacto do Ponto Fixo, a Venezuela era governada por dois partidos - AD e COPEI. O Caracazo de fevereiro de 1989 deixou mais de 3 mil mortos, um sem número de desaparecidos, que até hoje não se sabe precisar. Tratou-se um grande protesto nacional contra fome e miséria generalizadas no país, até ali governado por oligarquias que importavam tudo, mesmo alimentos que poderiam ser produzidos na Venezuela. Protegidas por um forte apoio midiático, do FMI e do Banco Mundial, a alternância destas oligarquias financeiras transformava eleições numa democracia de ricos. A comunidade internacional jamais proferiu palavras contrárias ao que ocorria no país. O banco central da Venezuela garantia com petróleo, e com todos os ativos do setor estatal, o pagamento da dívida externa. Segundo Michel Hudson, respeitado economista independente, será impossível a utilização das riquezas minerais pela Venezuela para seu desenvolvimento "sem desencadear a fúria dos Estados Unidos" e do sistema financeiro internacional.

Durante o Caracazo de 1989, Hugo Chávez recusou-se a atirar contra os manifestantes. Foi eleito presidente em 1998, sofreu um golpe patrocinado pela principal estação de televisão - a RCTV - e a embaixada americana, além de parte dos militares. Frustrado o golpe em 2002, Chávez procurou governar com a utilização dos ganhos do petróleo para infraestrutura, com forte aumento dos gastos em educação, saúde e habitação. Com a morte de Chávez, o sucessor Nicolás Maduro enfrenta uma crise sem precedentes durante seu segundo mandato, iniciado em janeiro de 2019.

Na tragédia venezuelana chama a atenção o fato de não se perguntar o porquê da escassez de alimentos e medicamentos; ou da fuga de pessoas. O bloqueio econômico e dos depósitos públicos do governo torna quase impossível o acesso à comida e medicamentos. Os refugiados não são refugiados políticos, nos termos do Estatuto dos Refugiados da ONU/1951 e de seu Protocolo de 1967. São refugiados econômicos. Aqui estão as raízes da crise da Venezuela. Não somente no presidente Maduro. n

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