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Quem inventou Bolsonaro ainda o alimenta
Opinião

Quem inventou Bolsonaro ainda o alimenta

Edição Impressa
Tipo Notícia

Jocélio Leal

leal@opovo.com.br

Jornalista do O POVO


Durante anos ocupou páginas de jornais e de portais um duelo entre Jair Bolsonaro, o deputado federal e ex-capitão da ativa do Exército, e Jean Wyllys, o deputado federal ex-BBB.


Na rivalidade alimentada por ataques e contra-ataques, com direito a declarações desastradas de ambos, xingamentos aqui e cusparadas acolá, um se alimentava do outro. Um jogo aparentemente infantil, porém, utilíssimo às duas personagens.


Pré-iniciada a campanha presidencial, vê-se que o papel caiu muito bem em Bolsonaro. E, melhor para ele, agora não tem apenas um oponente inexpressivo. Todos batem. E, melhor para ele, de novo, batem errado.


O clipping de quase tudo o que tem saído na imprensa pelo País sobre o candidato que nem os generais engolem porque é capitão, no mais das vezes, revela a tentativa de desconstruí-lo sob o rótulo da homofobia e do machismo.


Após a longa Era petista no Poder, tão extensa que já não cabia reclamar do antecessor, a jeunesse dorée tropical ficou com aquele grito preso na faringe. O furor juvenil queria explodir, esmurrar e lutar contra um inimigo. Natural. Roger, um filósofo do Rock nacional, já cantara a rebeldia sem causa nos anos 1980: “não vai dar, assim não vai dar. Como é que vou crescer sem ter com quem me rebelar?”.


FHC já não dava. Nem a América, afinal Obama era negro e democrata (protecionista norte-americano, mas quem se importa se ele não importa?). Arrumaram os pastores evangélicos e Malafaia foi muito útil na entressafra de vilões. Até ficou na mira das esquetes de inocentes do Leblon.


E eis que em uma sociedade ainda fortemente machista e homofóbica - seja lá o que venha a ser este conceito exatamente – cresce um candidato que se posiciona na defesa destes valores absolutamente à vontade.


Nas entrevistas, tratar sobre esta pauta foi como querer outrora apertar Moroni falando de segurança. É mais ou menos como, por exemplo, pretender perquirir Carosella falando de empanadas ou Piquet tratando de automobilismo. São as praias deles. Com suas virtudes e defeitos. Claro que Bolsonaro só pode agradecer a imensa mídia espontânea que lhe dão.


O vazio das propostas para a Economia - o principal a ser dito, com os compromissos sobre a necessária agenda de reformas - bem como o escopo da política industrial, agrícola, de ciência e tecnologia, cultura e tantas outras vão às favas. E o País também.


O cenário de aridez de nomes, propósitos e, sobretudo, de moral é o campo fértil para tipos assim. São 26 partidos. Agremiações (ou agrupamentos) cujo secretário-geral ninguém conhece. Nada além de um bando de grupos de interesse negociando discursos, tempo de TV, cargos e imunidades.


Aquela recepção efusiva a Bolsonaro no Aeroporto de Fortaleza na semana passada e o retrato das pesquisas são fruto disso. E só faltam 90 dias.

 

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