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Não deve ser fácil
Opinião

Não deve ser fácil

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Não deve ser fácil ser presidente do Brasil. A agenda principal inclui uma reforma do sistema previdenciário, sob pena de em algum tempo não haver caixa para pagar os benefícios de quem tem direito. No nosso caso, empurramos para o próximo governo.

 

Ademais, precisa lidar com uma base e uma oposição que não têm por marca se dar ao respeito. Trata a votação de temas estruturantes como um desejo do governo e não como um tema do País. Em suma: um sistema contaminado para o qual não basta boa vontade. Nem à direita e nem à esquerda.


No caso brasileiro, dores particulares. O presidente da vez tem ainda de lidar com suspeições cheias de evidências a lhe fungar o cangote.


Não deve ser fácil ser governador do Ceará – Comandar um estado com ínfimos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, com boa parte do solo cristalino; chuvas escassas e mal distribuídas (seis anos de seca); um passivo histórico na educação; dificuldades sistêmicas na área da saúde; um sistema político viciado – com um cardápio de partidos, em grande maioria, pouco afeitos ao interesse público; sistema penitenciário carcomido; forças policiais mal acostumadas após um antecessor que cedeu a ponto de parir um líder de motim como candidato.


E ainda: um quadro nacional de expansão de facções criminosas; um Governo Central opositor (amainado pela aproximação de um senador outrora adversário); um modelo federativo cruel, com tributos centralizados na União.


E mais, como diz um nome com trânsito no Gabinete: “Com a angústia da relação demanda e oferta e a solidão das decisões. Emoções próprias e solitárias de um governador”.


Só acha glamouroso pegar um avião ou helicóptero dia sim, dia não – conforme a época – quem nunca o fez. Sábado e domingo? Família é na brecha da agenda ou misturados a ela. Vai sair? Não faltará alguém a pedir algo.


Na crise da segurança, Camilo Santana é alvo. Não podendo acertar o Mal, o contribuinte mira no governante. Sempre foi e sempre será assim. Resta respirar fundo e agir. Camilo chega a afirmar que já fez tudo o que se recomenda. A vida real mostra que não foi o bastante. A reação tanto é lida como humildade, como arrogância, o que, aliás, nunca foi sua marca.


Não deve ser fácil ser prefeito de Fortaleza - a Capital tem realidades bem distintas. A Metrópole é bem maior do que a Dom Luís e adjacências. O que para os moradores das áreas ditas nobres é prioridade, para tantos outros milhões nem tanto. Quem não tem plano de saúde, precisa do Posto; quem não usa capacete e bota na moto quer o IJF sem fila; quem joga o lixo na rua não quer ver rampas.


Quem não tem casa, cobra moradia; quem mora longe quer o ônibus passando na porta (e o transporte urbano é bem avaliado). Para garantir o sorriso, quem é prefeito precisa ter estômago para aturar todo tipo de vereador e todo tipo de empresário. Também não pode ir ali à esquina tomar um coco sem ter respostas.


Não, não foram obrigados. Foram candidatos e venceram. Sim, até o presidente. Ele estava naquela chapa. Há delícias. Muitas. E há as dores. E as dores do Poder explicam porque são tão cômodas as candidaturas com poucas chances de vitória, como as dos partidos pequenos, tipo Psol e outros ainda menos votados. Nada mais confortável do que disputar apenas para marcar posição. Quem vence não pode resmungar. Precisa dar as respostas.

 

Jocélio Leal

leal@opovo.com.br 

Jornalista do O POVO
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