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Universidade Pública e modernização periférica
Opinião

Universidade Pública e modernização periférica

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Tipo Notícia

É importante discutir o lugar da Universidade Pública na modernização brasileira. Diferentemente das privadas elas não estão vinculadas ao critério de rentabilidade econômica. A natureza da Pública constitui um híbrido entre o estatal e o social e seu sucesso depende de certa gratuidade dos agentes científicos. Elas respondem aos desafios de inovação científico-tecnológica em sociedades periféricas como a brasileira onde tradicionalmente as elites oligárquicas não se preocupam com a Ciência. A Universidade Pública tem duas missões estratégicas: modernização técnica e organizacional do sistema estatal e formação de uma intelligentsia política, empreendedora e cultural na sociedade civil. A organização de uma intelligentsia pública é necessária para atender as demandas complexas da sociedade nacional no sistema global.

Em sociedades periféricas como a brasileira elas constituem dispositivos estratégicos para resolver as tensões entre colonialismo e anti-colonialismo, entre religião e laicismo. Até os anos 40 do século XX sua função era prioritariamente formar a elite dirigente nacional: bacharéis, engenheiros, administradores, médicos, educadores entre outros. A partir da Segunda Guerra elas ganham o formato de estatal-pública para suportar os saltos da reforma organizacional, da modernização industrial e urbana, da infraestrutura e das demandas da sociedade civil em expansão. Os investimentos na pós-graduação entre os anos 70 e inícios do século XXI levaram o Brasil a dispor de um dos mais importantes sistemas científicos mundiais.  

O desafio atual é de criação de dispositivos integrados para escoamento destas competências com vistas a apoiar as tarefas de reorganizar as bases científicas e tecnológicas do novo projeto de modernização. Há ações de reorganização dos saberes acadêmicos especializados como blocos temáticos transversais que possam facilitar o escoamento das informações e o debate público. A criação do Colégio de Estudos Avançados (Cea) na UFC, sob direção do Prof. César Barreira, é uma dessas iniciativas pioneiras voltadas para articular pacotes de inovação integrados, interdisciplinares e transversais.

 

Paulo Henrique Martins paulohenriquemar@gmail.com Sociólogo e professor visitante do Departamento de Ciências Sociais da UFC  

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