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Jocélio Leal. O grito farsante
Opinião

Jocélio Leal. O grito farsante

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Jocélio Leal

jocelioleal@gmail.com

Jornalista do O POVO


Fazia tempo que não se via no País um grito tão uníssono nas massas. O “Fora Temer” ainda é parte integrante do repertório de shows, peças de teatro, bloquinhos de carnaval, bares e outras aglomerações que juntem alguns ou muitos gatos pingados (mas nem sempre escaldados). O grito companheiro resiste.


É gente jovem em sua maioria a degustar o doce sabor da revolta, do vigor juvenil a plenos pulmões. Quem nasceu ali em meados dos anos 1990, em verdade, não viveu o Fora Collor, nem o Fora FMI, o Fora FHC e nenhum outro Fora. No máximo, levou algum...


Mas gritos não nascem no vácuo. Ecoam primeiro da garganta daqueles abrigados no Setor Público. E segue o bloco: utilíssimos inocentes úteis e a militância contra o Governo que não é seu. As duas alas – a dos desavisados e dos militantes – ombreadas dão de ombros para a calamidade econômica na qual nos enfiaram. O enredo tem versos de déficit fiscal e ameaça de colapso da Previdência. Mas quem se importa?


Para o déficit fiscal, há duas saídas clássicas: arrecadar mais ou cortar despesas. Para a Previdência, mudar as regras de contribuição de quem irá se aposentar ou ignorar e aumentar o déficit fiscal e a dívida. A proposta escolhida pelo Governo foi aumentar o tempo de contribuição dos trabalhadores na ativa, definindo uma idade mínima.


A economista Ana Carla Abrão Costa, secretária da Fazenda de Goiás (2015-2016), onde conseguiu mudar o déficit primário (resultado sem inclusão dos juros da dívida pública), de R$ 650 milhões em 2014, para superávit de R$ 1 bilhão em 2016, graças à privatização da companhia estadual de luz (Celg) e cortes de despesas (sim, desconfie das medidas simpáticas), foi no ponto em entrevista ao Estadão ontem:


“Nós temos um quadro fiscal gravíssimo, mas a gente precisa relativizar as coisas. Em 2015, o Brasil estava indo aceleradamente para o precipício. Desde então, foram tomadas algumas medidas para tentar desacelerar esse processo, mas ainda não deu para reverter a situação totalmente – e isso a gente precisa fazer. Acredito que a eleição de 2018 será fundamental para responder se vamos conseguir mesmo reverter esse processo ou voltar a acelerá-lo”. Bingo!


E ainda há espaço para corte, perguntou o repórter José Fucs. “Há e há muito espaço para corte, porque a máquina é ineficiente. O governo gasta muito e gasta mal. Há espaço também para alocar de forma mais eficiente os recursos que consegue economizar com os cortes”. Eis outra ferida que as corporações não querem nem ouvir falar e por isso gritam. Ninguém quer discutir eficiência. Só aumento.


As alianças em formação, vide o governador do Ceará Camilo Santana (PT) e o presidente do Congresso Eunício Oliveira (MDB) - com aval de Lula -, tornaram o discurso contra o “Golpe” um tanto inócuo. Mas vá lá. Fica na conta de que o presidente Temer tem o peso daquela mala não explicada.


Caberia, vejamos, também ser rejeitado pela composição de um Ministério absolutamente controverso. Ou ainda por não ter sido revolucionário em uma agenda para o problema do desequilíbrio regional. Ou tantas outras a serem escolhidas pelo digníssimo militante-gritante. Mas não. É execrado por ser (hoje) o outro lado. Isto torna o grito uma farsa.

 

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