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Violeta Holanda: O desafio de se tornar mulher no maciço
Opinião

Violeta Holanda: O desafio de se tornar mulher no maciço

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O drama de estudantes brasileiras e internacionais (africanas e timorenses) diante de situações de assédios e violência física, psicológica, moral, sexual, patrimonial e, mais recentemente, de tentativa de feminicídio no interior da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab), localizada na região do Maciço de Baturité, revela o desafio de tornar-se mulher – intelectual, consciente, independente e cidadã - em espaços ainda dominados pelo machismo e a violência doméstica e familiar.

No importante processo de interiorização e internacionalização das ações educativas de nível superior, a universidade amarga os conflitos estruturais das desigualdades de gênero, que são agravados pela precariedade da infraestrutura na região, especialmente, relacionada às políticas públicas de enfrentamento à violência contra a mulher, em seus eixos da prevenção, combate, assistência e garantia de direitos. Faltam os equipamentos previstos na lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), como delegacia especializada, centro de referência de atendimento à mulher, casas-abrigo, juizados especializados, dentre outros, embora o Maciço já conte com mais de duzentos mil habitantes. Como legado, a instituição impulsiona a reflexão crítica sobre nossas práticas opressoras e a necessidade e meios de superação. Evidentemente, considerando seu perfil institucional, com repercussões locais e internacionais.


Se a máxima de Beauvoir diz que “não se nasce mulher, torna-se mulher”, as experiências compartilhadas socialmente pelas estudantes em situação de violência traduzem opressões, ameaças e medo, sendo agravadas por fatores interseccionais de desigualdades de raça/etnia e classe social. Trata-se de uma violação grave dos direitos humanos que requer mudanças culturais, educativas e sociais. A região, conhecida pelo pioneirismo em libertar os escravizados, precisa reagir e libertar também as mulheres. 

 

Violeta Holanda

violeta@unilab.edu.br

Professora do Instituto de Humanidade e Letras da Unilab

 

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