Miasma empesta a democracia
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Miasma empesta a democracia

2018-09-30 00:00:00

Há apreensão no estrangeiro sobre o que pode acontecer caso a oposição brasileira vença as eleições. Temem-se reações inconformistas. Por isso, a vigilância começa com o 1º turno. Apesar de ter sido desbancado da posição de 5ª economia mundial que estava prestes a alcançar (superando a Inglaterra), o mundo sabe que o Brasil pode escapar da irrelevância a que foi subitamente atirado, em 2016, pela elite antidemocrática. Esta demonstrou-se desprovida de senso das potencialidades estratégicas do País que lhe coube administrar. A guinada imediatista e subserviente ao hegemonismo da metrópole do Norte, naquele ano, retira das classes tradicionais a autoridade para liderar um processo de afirmação nacional, num cenário em que países de porte semelhante ao nosso (em termos territoriais, populacionais, mercado interno e riquezas naturais) se recusam a ser simples peões da geopolítica alheia. Que o digam a China e a Rússia.

 

Por isso, a burguesia brasileira vai ter de aceitar, novamente - com estas eleições -, que outras camadas da sociedade (trabalhadores e assalariados em geral) liderem a tarefa da reconstrução de um espaço próprio para o País, na correlação de forças mundiais, retomando a experiência exitosa dos treze anos anteriores a 2016, em que um governo representativo do espectro mais largo da sociedade nacional dirigiu o País e o fez alcançar um prestígio internacional jamais visto.

 

Na ambição desmedida de continuar com a posse exclusiva dos cordéis do poder do Estado - como o faz desde os tempos das capitanias hereditárias - essa camada dirigente preferiu destruir o País a permitir que prosperasse a experiência de sua condução pelos novos condôminos do poder, postos lá pelo povo e oriundos de camadas sociais não-tradicionais. Dos destroços, imaginou formatar, através do controle do atual processo eleitoral, o "salvador da pátria": mas, as candidaturas da direita tradicional volatizaram-se. No seu lugar surgiu uma "assombração" da extrema-direita diante da qual só há lugar para uma das duas alternativas: civilização ou barbárie; democracia ou ditadura. Não é possível uma posição neutra, pois a omissão se transformaria objetivamente em apoio à barbárie.

 

Isso não resultaria apenas em retrocesso político, institucional e cultural, mas, igualmente, em degradação social: o modelo de reforma previdenciária e trabalhista defendido por essa corrente é o mesmo de Michel Temer, acrescido da abolição do 13º salário e do adicional de férias; imposição de uma taxa de 20% de imposto de renda para pobres e a redução de 27% para 20% para os ricos; insegurança no emprego e total dependência do empregado em relação ao empregador e a seus prepostos (chefias). Portanto, o perigo da extrema-direita não é apenas no campo das liberdades, mas, igualmente, a desgraça social: um escravismo camuflado, a ser mantido pelo terror do desemprego. É isso que as pessoas precisam saber. Não se trata apenas de preconceito contra gays e lésbicas, negros e pobres. Não. É retrocesso na condição do trabalhador, que ficará desprovidos de garantias trabalhistas, como já revelaram, inadvertidamente, o "Posto Ipiranga" (economista Paulo Guedes) e o vice, general Antônio Mourão. Desmentidos já não têm credibilidade e são vistos como artifício eleitoral.

 

A receita defendida pelo trio (inclui-se aí o cabeça de chapa) é a que está sendo aplicada na Argentina pelo governo Macri. Este, até há pouco, era louvado e exaltado pelos aecistas & Cia. Faltando apenas um ano para o fim do governo, vê-se ali um país agonizando na recessão, no desemprego e de novo atado à coleira do FMI. Será esse o destino almejado pelos brasileiros? Não parece, pois naufragam todos os candidatos neoliberais (Alckmin, Meireles, Amoedo, Marina e, provavelmente, Bolsonaro).

 

Contudo, os obstáculos contra os defensores do modelo desenvolvimentista, nacional e inclusivo (o único, supostamente, capaz de fazer o País crescer e gerar empregos) continuam a surgir. Cerca de três milhões de possíveis eleitores acabam de ter o título eleitoral cassado pelo STF, por não terem feito recadastramento biométrico. A falha deveria ser debitada ao sistema de alistamento eleitoral. Não constrangendo a soberania popular, fonte de legitimidade do poder político. Assim defenderam dois ministros da velha e boa escola democrática - Lewandovsky e Marco Aurélio. Em vão. É esse o espírito que tomou conta de nossas instituições. Só o sol da democracia pode dissipar esse miasma putrefacto.

 

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