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País sem povo nem futuro
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Raymundo Netto é jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, autor de obras premiadas, em diversos gêneros ficcionais ou não. É gerente editorial e gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha.

País sem povo nem futuro


O Brasil, enquanto país, enquanto povo, não existe. Uma piada, uma melopeia, uma paródia. Saqueado, de(s)cantado e mal influenciado, desde que as invasoras e xenófobas naus cabralinas trouxeram a sua má influência e a sífilis, tem a tradição de sujeitar-se e render loas a quem lhe prega cravos na palma da mão. Os que detém o poder calam, arruínam, escravizam e extinguem, pelos meios possíveis, mais frios e cruéis – mesmo quando por expedientes divinos –, aqueles que contestam a tirania, a vilania, a ambição e a sua exploração. Esse poder tupiniquim, o mais covarde, conseguido à custa do berro, da força, da extorsão do trabalho e da vida alheios, por meio de corrupção, roubo, contrabando, sonegação, agiotagem e que se perpetua na escola colonial, regida por dirigentes e empresários analfabetos, rudes e desumanos, a usar e lambuzar-se, em proveito próprio e dos seus,do que chamamos de leis e de autoridades. Eles sabem que tais leis e que tais poderes, pela mesma “força da grana que ergue e destrói coisas belas”, lavam com a língua as solas de seus sapatos, enquanto da mesma boca lançam as presas contra os desvalidos, “os pobres nas filas, nas vilas, favelas”, sugando-lhe a alegria, a virtude, a dignidade e a esperança.


Com a história desenhada por pouca vergonha e muito mau-caratismo, cercados de ruínas, mentiras e podridão, nos acenam e encenam o projeto de uma sociedade justa, livre e igualitária, enquanto se vestem da democracia fraudulenta e competente apenas na promoção da desigualdade social, da injustiça e da concentração de renda.


A ordem e o progresso desse país sempre vieram pela chibata, oprimindo o povo em currais, morros e periferias, massacrado pela ausência de cultura, por uma oferta de baixa educação e excesso de novelas, ludibriado por discursos chinfrins e inverossímeis, cargos de prefeitura, vagas em secretarias, pererecas e/ou tijolos. Os demais, aqueles ainda conscientes de que o poder deveria emanar do povo, insistem em manifestações tão pacíficas, beirando um Carnaval ou desfile colegial, não fazendo sequer cócegas neste governo sem moral nem credibilidade. Afinal, o que esperar do exangue judiciário e do supérfluo tribunal FEDEral, uma rapariga cega cuja lâmina só é afiada quando apontada a serviço desse poder contra os mais fracos ou seus opositores políticos? E do Congresso Nacional, cheirando a gasolina e a churrasco, hoje, a maior representação da criminalidade do País? E o pior: nós ainda permitimos que esses canalhas, em nome da pseudo democracia – os partidos políticos são o maior fracasso desse processo –, decidam o nosso futuro, enquanto essa malta de caretas engravatados e togados, protegida pelas forças repressoras pagas por nós, zomba e esbanja as riquezas do país, se apropriando delas, comprando espaços de TV e globais para as festas particulares, se mostrando em capas de revistas e em colunas sociais, embriagando-se, consumindo drogas, joias, bolsas, silicones e outros acessórios pelo mundo e restaurantes afora, pois aqui se garante a impunidade, a malsonância do código legal, a venda da dignidade por esmolas do cada um por si.


Os que detém a riqueza hoje estão no poder, numa correria de navio afundando, garantindo as suas imorais conquistas, que chamam de reformas, entre outras manobras anti cidadãs,em nome do povo e contra o povo. E nós, até quando? Até quando?

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