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Um governo de recuos

2018-01-10 01:30:00
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Depois que o Tribunal Regional da 2ª Região confirmou a decisão da Justiça Federal suspendendo a posse da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), como ministra do Trabalho, o fato deverá se converter no mais novo recuo do presidente Michel Temer (foto). A penúltima volta atrás deu-se em relação à proposta de quebrar a “regra de ouro”, que proíbe o governo de fazer empréstimos para pagar despesas correntes, aquelas das quais depende o funcionamento cotidiano da máquina pública: água, luz, telefone, despesas com funcionários, entre outras.


Porém, esse recuo de Temer foi estratégico, devido à má repercussão que a medida causou. Mas o presidente vai continuar insistindo na ideia, pois não existe outra forma de fazer dinheiro para fechar as contas do governo.


A propósito, se existe um termo que marca a atual administração é “Temer recua” ou “Governo recua”. Digite um desses vocábulos na barra de busca do Google e lhe saltarão aos olhos as dezenas de vezes que o presidente foi obrigado a dar passos atrás devido aos desacertos de suas decisões, desde o início de seu mandato.


- “Após críticas, Temer recua do recuo sobre corte de ministérios” (Folha de S. Paulo, 9/5/2016).


- “Temer recua e pretende manter ministros denunciados no governo” (Folha de S. Paulo, 12/6/2017).


“Temer recua e revoga decreto que colocou Forças Armadas nas ruas de Brasília” (Uol, 25/5/21017).


- “Governo recua e endurece regras de fiscalização do trabalho escravo (que antes havia amolecido)” (Último Segundo, 25/9/2017).


- “Temer revoga decreto polêmico que ameaça reservas da Amazônia” (El País, 26/9/2017).


- “Após Planalto informar cancelamento, Temer recua e vai à convenção do PMDB” (O POVO, 19/12/2017).


Esta coluna poderia ser completamente preenchida, sem dificuldade nenhuma – e ainda faltaria espaço – , com manchetes anunciando recuos do governo, o que dá uma ideia da forma errática como Temer conduz a sua administração.

[FOTO1]

PRÉ-CRIME

No filme Minoryt Report (2002), ficção científica que passa no ano de 2054, a força policial dispõe de um Departamento do Pré-Crime. Trabalhando com videntes, os policiais são capazes de visualizar um delito antes acontecer. Então, o Departamento envia agentes para prender o “pré-criminoso”, quando ele está na iminência de concluir o seu intento, impedindo-o de fazê-lo, mas aplicando-lhe a pena corresponde ao crime que cometeria.

Por sua vez, o presidente Michel sabe que incidirá em crime de responsabilidade, se lançar mão de empréstimos para fazer face a despesas correntes, pois o impedimento está inscrito na Constituição. Porém, mais esperto do que os homens maus de filmes de ficção, ele pretende aprovar uma proposta de emenda constitucional (PEC) antes de cometer o crime, dando um drible na lei, com a ajuda do presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ).


Ou seja, ao invés de dar algumas pedaladas, Michel Temer quer logo passar o trator por cima da bicicleta e apagar as digitais do crime com uma emenda à Constituição.


LEI MOLE E LEI DURA

Além do caso da nomeada ministra do Trabalho, Cristiane Brasil, enrolada com a Justiça do Trabalho, existe constrangimento equivalente em Minas Gerais. O novo diretor do Detran-MG, César Augusto Monteiro Alves Júnior, soma 120 pontos de infrações em sua carteira do motorista, o que deveria bastar desqualificá-lo para o cargo. Mas ele não se deu por achado e continua sendo a autoridade máxima, portanto um exemplo a ser seguido, quando se trata de respeitar as leis de trânsito.

Os políticos brasileiros devem ser os caras de raciocínio mais lerdo do mundo. Muitos não aprendem nunca; pensam que podem enganar a todos o tempo todo. O lema deles, apesar do verniz de modernidade, continua a ser o dos velhos coronéis: “Lei mole a gente passa por cima; lei dura a gente passa por baixo”.

 

Plínio Bortolotti

Jornalista do O POVO

Excepcionalmente, o jornalista escreve esta coluna de hoje até

sexta-feira

Gabrielle Zaranza

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