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Os ministros e a moralidade

2018-01-09 01:30:00
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A proibição da posse da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) como ministra do Trabalho é daquelas decisões judiciais que dificilmente se sustentam. Enquanto você lê esse texto, é muito capaz de alguma decisão de tribunal já ter derrubado a liminar e garantido a posse. A avaliação nada tem a ver com opinião sobre a adequação ou não da parlamentar para a função. Aliás, o que penso eu escrevi na última quinta feira (leia neste link: https://bit.ly/ministratrab). Porém, o Judiciário raramente se mete em questões administrativas a esse ponto. Só lembro de isso ter ocorrido e prevalecido, no âmbito federal, em uma ocasião: foi quando Dilma Rousseff (PT) foi proibida de nomear Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil. Também sem entrar no mérito se o petista devia ou não ser ministro, o fato é que a proibição de indicá-lo só ocorreu porque a então presidente estava num nível de fragilidade e desgaste que já não impunha qualquer respeito institucional. Dilma já não governava àquela altura e ali recebeu uma das várias pás de cal lançadas sobre ela.


Michel Temer (PMDB) viu sua popularidade ir tão baixo quanto a de Dilma jamais chegou. Mas, não está tão enfraquecido quanto a ex-presidente. De modo que acho difícil que Cristiane Brasil não venha a ser ministra. Creio ser questão de tempo para a decisão cair.

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O que, a rigor, considero uma pena. A indicação da filha de Roberto Jefferson alcançou novos patamares do bizarro. As condenações contra ela na Justiça do Trabalho são de extrema gravidade. É inaceitável alguém com tal currículo na função. Falta a ela credibilidade, compostura para o cargo.


Infelizmente, não é caso isolado.


TRADIÇÃO DE INDICAR GENTE ENROLADA

Mais da metade dos ministros que Temer indicou eram investigados, alvos de inquérito, citados em delações ou apareciam em planilhas de pagamentos suspeitos. Dois deles chegaram a ser denunciados pela Procuradoria Geral da República (PGR) - juntos com o presidente, aliás. E não dois ministros quaisquer. Os mais próximos a Temer: Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral.

Ambos, não custa lembrar, foram ministros de Dilma. Moreira Franco também foi ministro de Lula. Padilha, por sua vez, foi ministro também de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Hoje, PT, PMDB e PSDB estão cada um para um lado. Porém, essa turma está aí há bastante tempo e passou pelas administrações de todos eles.


IDAS E VINDAS

Moreira Franco, aliás, foi outro que chegou a ter a posse suspensa pela Justiça. O argumento era o mesmo para proibir Lula de assumir a Casa Civil - a nomeação seria forma de dar a ele foro privilegiado nas denúncias de que é alvo. Porém, a decisão sobre Franco acabou revertida.

E aí a História apronta mais uma de suas ironias: o único predecessor de Cristiane Brasil que, realmente, foi impedido em definitivo de assumir o ministério foi Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, a mesma situação ameaça a filha de Roberto Jefferson, o delator do mensalão. Esses destinos se cruzam mesmo.

 

QUANDO A CIDADE MORRE UM POUCO

O fim de mais um bloco de Pré-Carnaval é uma derrota para Fortaleza. Porque se revela uma sina, como já aconteceu com o Quem é de Bem Fica e o Sanatório Geral. O Glitter teve existência muito mais efêmera. Não marcou época ou foi divisor de águas como os dois outros. Poderia vir a ser, mas não sobreviveu até esse ponto.


Mas, é uma derrota, sobretudo, da ideia de que a rua pode ser lugar de diversão, de alegria. A noção de que a Cidade não é só lugar de passagem. De que o espaço público não é apenas por onde se passa para ir de um local privado a outro.


Porque somos, como sociedade, violentos, sujos, barulhentos. Por não sermos capazes de um convívio que respeite o outro. Por não termos poder público capaz de viabilizar uma ocupação saudável, a rua deixa de ser local de alegria. A festa se retrai e resta o concreto, o asfalto e a melancolia.


Diz-se que Fortaleza não tem Carnaval, não gosta de Carnaval. As várias tentativas de construir uma festa mostram o quanto há de demanda carnavalesca entre nós. Não falta gosto ou vontade. A questão é que carnavalizar é um ato de persistência e resistência em Fortaleza. A carência talvez seja mais de senso de coletividade e de saber conviver com o outro do que do gosto de festejar.

Érico Firmo

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