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O partido mutante ganha novo uso

2018-01-18 01:30:00
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P oucas coisas são tão erráticas na política do Ceará quanto a trajetória do Pros. O partido muda de lado e de orientação política sem constrangimento ou cerimônia. É uma carcaça burocrática, que serve e se serve dos interesses passageiros de políticos. A sigla ganhou relevância no Ceará em 2013, quando a família Ferreira Gomes e seu séquito de deputados, prefeitos e vereadores a escolheu como abrigo ao abandonar o PSB, por cujo controle tanto havia lutado. As brigas logo começaram. A direção nacional chegou a sinalizar apoio a Eunício Oliveira (MDB) em 2014, em disputa na qual o clã sobralense lançou Camilo Santana. Em conversas reservadas, Cid Gomes fazia comentários desalentados sobre o Pros.

Com a saída da família, assumiu o partido um aliado dos Ferreira Gomes. Odorico Monteir, petista de longa data, se tornou dirigente no Ceará. Essas negociações funcionam assim: o que determina a força de um partido é o número de deputados federais. É o parâmetro para calcular tempo de rádio e televisão, dinheiro do fundo partidário. Então, esses partidos pequenos ou mesmo médios negociam a “propriedade” nos estados como isca para deputados federais. Para uma bancada nanica como a do Pros, que hoje tem seis deputados federais, um nome a mais, como Odorico, era ganho e tanto.

Porém, em maio do ano passado, o deputado migrou para o PSB, partido maior e mais estruturado, que atendia às conveniências de Odorico do ponto de vista de alianças. Agora, o partido se aproxima do PSDB no plano nacional e periga complicar a situação do cearense.

Agora, o Pros será entregue ao Capitão Wagner, que deixa o PR. Em dois anos e meio, sai das mãos dos Ferreira Gomes para seu mais duro opositor.
 

GANHAR E PERDER
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O que o Pros ganha com a filiação do capitão é evidente: a perspectiva de eleger uma grande bancada. Recordista de votos para vereador e deputado estadual, ele projeta arrastar grande bancada federal fala em eleger três federais e três estaduais. O que não está claro é o que ganha o próprio Wagner. O PR é maior, tem mais estrutura e tempo de TV. É mais valioso nas negociações de alianças. O capitão fala de ter mais autonomia, mas nunca se soube de maiores problemas dele com o partido. Wagner tem ambição política e não é muito provável que sua passagem pelo Pros seja de longo prazo. O interesse imediato, todavia, também não é muito evidente.
 

O CASO HÁ DE SER SÉRIO
 

A gravidade do afastamento dos quatro vice-presidentes da Caixa Econômica Federal pode ser medida pelo fato da quantidade de denunciados que há no governo Michel Temer (MDB), cujo afastamento nunca é cogitado. Devem haver elementos bastante consistentes nas investigações que apontam suspeitas de fraude e corrupção. O Ministério Público Federal pediu a saída dos 12 vice-presidentes, na verdade. O Banco Central concordou. Temer aceitou afastar quatro e oito terão a situação avaliada.
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O afastamento foi anunciado como temporário, por 15 dias. Porém, nos bastidores se comenta que eles não votam. Mais que isso, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, informou que a situação dos oito vice-presidentes será avaliada.

O governo Temer não é muito dado a cumprir determinações do Ministério Público. Caso dependesse da instituição, o presidente estaria afastado do cargo e respondendo a processo no Supremo Tribunal Federal (STF). O mesmo teria ocorrido com os mais poderosos ministros.

Para Temer ter aceitado recomendação que partiu do MPF para afastar os vice-presidentes, as denúncias devem ser escabrosas. As provas, consistentes.

O que quer dizer: em breve teremos notícias de esquema de corrupção cabeludo, que talvez estivesse generalizado na cúpula de instituição com a importância da Caixa.

Érico Firmo

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