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O que Eunício sinaliza sobre o futuro de Temer

2017-10-21 01:30:00

Eunício Oliveira (PMDB) faz um jogo nacional e outro local. É um dos homens fortes do fraco governo Michel Temer (PMDB), teve papel importante na votação que livrou Aécio Neves (PSDB). No âmbito local, vem de aliança com Tasso Jereissati (PSDB) e Capitão Wagner (PR), mas se aproxima de Camilo Santana (PT) e Roberto Cláudio (PDT). Conforme O POVO mostrou ontem, pretende votar em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidente.


Eunício não é um qualquer. É presidente do Congresso Nacional. Mais poderoso peemedebista depois de Temer, declara voto no principal nome da oposição. É emblemático do que começa a ocorrer com o governo Temer. Impopular, verá seus apoiadores partirem para o salve-se quem puder. O PMDB sempre funcionou por essa lógica. Os interesses regionais ditam as regras. A diferença é que agora o partido está no Palácio do Planalto.


OS SENTIDOS DO EDUCAR

A conturbada semana não deixou espaço para a coluna abordar questão que toca muito mais de perto a vida da população. Na segunda-feira, O POVO publicou reportagem da jornalista Luana Severo que mostra o que tem sido feito para levar para a escola crianças e adolescentes que não estudam. Eles são poucos percentualmente. Menos de 5%. Nas últimas décadas, a educação básica foi quase universalizada. Mesmo assim, os que estão fora somam dezenas de milhares só no Ceará.

A questão não é mais criar vagas. Lugares para eles estudarem existem. Mas inúmeras questões outras os afastam da escola: falta de moradia, conflitos familiares, trabalho precoce, gravidez na adolescência, aliciamento pelo crime. É necessário localizar quem são esses jovens, ir até eles e construir soluções. Nesse processo, são descobertas pequenas histórias extraordinárias. Pessoas que vão muito além de funções burocráticas e se entregam à missão de educar como missão libertadora.


Um exemplo prosaico: quando uma adolescente da Escola de Ensino Médio Antônio Bezerra estava no fim da gestação, não conseguia mais ir andando até a escola. Então, o padrasto ia deixá-la de carro e uma das coordenadoras, Julieta, a levava para casa. Na mesma escola, a sala de aula com melhor frequência é premiada com lanches ou passeios, que a direção se esforça para conseguir.


Educar, sobretudo em comunidades pobres, vai muito além de ensinar conteúdos. Gestos muito simples, mas que são a diferença entre alguém conseguir estudar ou não.


AS MUITAS REVOLUÇÕES DE CHIQUINHA GONZAGA

Ainda sobre assuntos da semana que a coluna deixou passar: na terça-feira, 17, completaram-se 170 anos de nascimento de uma das personagens mais extraordinárias da história brasileira. Mais de 80 anos após sua morte, é até difícil ter exata dimensão da importância cultural, política, social de Chiquinha Gonzaga. Para começar:

1) Ainda hoje, mulheres lutam por espaço como compositoras na música brasileira. Quando Chiquinha morreu, em 1935, Dona Ivone Lara dava os primeiros passos na música. Precisou esconder a autoria de alguns de seus primeiros sambas para emplacar sua obra. Dolores Duran precisou se firmar como cantora para conseguir que gravadoras aceitassem que gravasse músicas que ela própria escreveu. Maysa, Rita Lee, Angela Ro Ro, Marisa Monte, Adriana Calcanhotto são exemplos de quem conseguiu superar barreiras e se impor como compositora. Se é difícil hoje, avalie-se no século XIX.


2) Chiquinha compôs a primeira marcha carnavalesca com letra: Ó abre alas. Mais de cem anos depois, qualquer brasileiro deve se lembrar dos versos “ó abre alas que eu quero passar”. Nada na música popular brasileira está há tanto tempo no imaginário coletivo. Foi ainda a primeira mulher a reger uma orquestra.


3) Para fazer música, enfrentou as restrições do marido, com quem se casara por imposição dos pais. Não aceitou a proibição e separou-se, no que foi outro escândalo. O marido a proibiu de criar os dois filhos mais novos. Ao ter de cuidar sozinha do primogênito, sofreu novo preconceito como mãe desquitada.


4) Envolveu-se com política, militou contra a escravidão. Vendeu partituras para arrecadar fundos para o movimento abolicionista. Comprou a alforria de diversos escravos.


5) Frequentava rodas de boemia, fumava em público, o que era mais um motivo de escândalo — naquela época, o pessoal se escandalizava com facilidade. Mais ou menos como hoje em dia.


6) Outra polêmica: já consagrada e aos 52 anos, iniciou relacionamento com o português João Batista Fernandes Lage. Ele tinha 16 anos na época. Ela viveu com ele até o fim da vida.


7) Chiquinha compôs mais de duas mil canções populares. Enveredou por gêneros como tango, polca, valsa, modinha. Compôs 77 de peças de teatro. Por causa dela, no dia de seu aniversário, 17 de outubro se comemora o Dia Nacional da Música Popular Brasileira. Não haveria data mais adequada. Embora ela tenha sido muito maior e ido muito além da música. Foi uma vida revolucionária.

 

Érico Firmo

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