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Alicerces em erosão

2017-10-17 01:30:00
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No fim de setembro, escrevi sobre as diferenças entre Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB). Os motivos para ela ter sofrido impeachment e ele vir se segurando no cargo. Superficialmente, as razões para afastamento se repetem: denúncias de corrupção e impopularidade. Porém, isso não é o essencial, estruturalmente, os alicerces que desmoronaram e levaram abaixo o governo Dilma se mantêm de pé com Temer. Mas, o início de semana mudou o clima. E o que estava sólido no fim da semana passada chegou à segunda-feira um tanto abalado.


O impeachment de Temer ainda não é a hipótese mais provável. Porém, já se tornou mais factível. Não é simples que ocorra a partir da denúncia de Rodrigo Janot que está na Câmara. Tampouco será fácil para o governo se sustentar diante da sucessão de fatos.


O QUE SEGURA


A impopularidade foi elemento que tornou possível o impeachment de Dilma, mas as forças que se moveram para tal foram motivadas pelos seguintes fatores:


1) Crise econômica.


2) Por consequência, perda do apoio empresarial.


3) Perda do apoio político.


Denúncias de corrupção foram determinantes para a impopularidade da presidente. Os protestos de rua criaram o ambiente político. As pedaladas fiscais acabaram sendo a justificativa jurídica para a retirada da presidente. Um pretexto, uma vez que havia motivações muito mais fortes.


Diante desse quadro, outro elemento foi crucial para a derrubada de Dilma: a existência de um vice considerado mais confiável pelos meios político e empresarial, e que se mostrou determinado a atuar para assumir a Presidência.

[FOTO1]

No caso de Temer:


1) A economia se recupera.


2) Ele mantém a simpatia empresarial.


3) Mantém apoio político.


4) A sucessão de Temer seria incerta. Rodrigo Maia (DEM) assumiria interinamente. Em caso de afastamento definitivo, haveria eleição indireta. Provavelmente, no meio da campanha presidencial. Ninguém parece achar que faria muito sentido. Ninguém tiraria lá muito proveito - salvo, talvez, Maia. Que não se mostrou nem de longe determinado a buscar o impeachment como Temer estava.


O QUE MUDOU


Porém, o fim de semana complicou a situação de Temer. A delação de Lúcio Funaro complica demais o presidente e traz elementos de que o impeachment foi comprado. A operação de ontem contra Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) - irmão de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) - lança pressão sobre outros personagens capazes de comprometer Temer. No meio disso tudo, a relação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) se deteriora.


Na semana passada, na coluna Painel da Folha de S.Paulo, o deputado cearense Danilo Forte (PSB) assim definiu a situação de Maia e Temer: “É um duelo de pétalas, sem espinho. Se Rodrigo Maia realmente quisesse criar dificuldades, ele poderia, mas não é o caso”.


Ocorre que o aparente desinteresse de Maia em complicar Temer é cada vez maior. A indisposição cresce. Maia pode complicar a sustentação do presidente no meio político. E se colocar de forma mais firme como potencial substituto em caso de impeachment.


Nesse caso, Temer profundamente impopular, sob denúncias graves e com sustentação política cambaleante terá só a economia ainda engatinhando e o titubeante apoio empresarial a segurá-lo.


Dificilmente será suficiente para mantê-lo.


CALOTE NA COMPRA DE VOTO


A ser verdade a delação de Funaro, o deputado federal cearense Aníbal Gomes (PMDB) recebeu R$ 200 mil para votar pelo impeachment de Dilma. Até aí, não muito surpreendente para os padrões da Câmara, infelizmente. O curioso é que Aníbal teria recebido o dinheiro, mas não foi votar. Se o delator disse a verdade, foi um calote em quem comprou o voto, pagou e não levou. Supostamente, passou a perna no Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

 

Érico Firmo

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