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A imprensa e a sensação de pânico na Cidade
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A imprensa e a sensação de pânico na Cidade

Os ataques criminosos em Fortaleza e no Interior têm tomado a maior parte dos noticiários da imprensa cearense nos últimos dias. Desde a sexta-feira 4, até a sexta passada, 11, das oito capas do O POVO impresso, em sete o assunto esteve na manchete. No principal concorrente, Diário do Nordeste, em todas as oito, o tema esteve no assunto principal da capa. Nelas, destaque para transferências de presos, reforço policial e mudança na rotina da população.

 

No portal e nas redes sociais, o leitor já amanhecia com o assunto caos na  tela. E assim permanecia ao longo do dia. Para ter um exemplo simples, no perfil do O POVO no Instagram, uma rede social seguida por mais de 630 mil usuários, de sábado até a última sexta, os conteúdos postados relacionados aos ataques no Ceará foram mais de 65% de tudo o que foi publicado no Instagram do O POVO. Com uma média de 47 postagens por dia, os assuntos variam desde informações sobre incêndios a ônibus, prisão de suspeitos e criminosos, transferência de presos, circulação da frota de ônibus, coleta de lixo prejudicada e operações policiais, dentre outros conteúdos.

 

Ao longo da semana, conversei com alguns leitores que elogiaram a agilidade do jornal na cobertura e outros que demonstraram preocupação com tamanho foco no atual momento em que se vive. Um deles diz que a imprensa tem apresentado um recorte equivocado. "Quem abre esses sites pensa que Fortaleza toda está pegando fogo, porque só tem fogo. Acho que a imprensa está dando uma pitada de contribuição para aumentar a sensação de pânico na Cidade", opinou.

 

Caos na tela

 

Para outro, a imprensa parece colaborar com o que chama de "sensação de terror". Carlos Silva conta que, ao acessar os portais de notícia, se assusta com tanto horror e questiona se há uma reflexão acerca da imagem que a mídia tem mostrado da conjuntura. "Eu não alterei minha rotina, continuo trabalhando. A TV mostrou um dia desses o Centro deserto. As pessoas estão seguindo seu ritmo. Que imagem vocês estão passando desse momento?", analisa.

 

É verdade que o tema, pela relevância pública e interesse social, tem ganhado repercussão nacional. Tem sido notícia em outros veículos, não apenas regionais, o que pode dar a impressão de que a Cidade toda está parada, como sugerem os leitores. "Fico imaginando o pessoal de fora quando abre o site do O Povo ou do DN! Pensa que Fortaleza está sitiada! A imagem é essa! A desgraça atrai muita atenção, muita audiência mesmo, né? Vocês só falam nisso!", me escreveu um leitor há alguns dias.

 

Para alguns, talvez seja um pouco mais confortável qualificar de equívoco o destaque dado ao tema, seja porque não vivenciam aquela realidade, seja porque não sentem diretamente os impactos dos ataques. É claro que Fortaleza não parou por causa dos ataques, como enfatizou um dos leitores. A população precisou, de fato, driblar todas as adversidades a fim de cumprir com as suas obrigações. Entretanto, grande parte da população sentiu, de alguma forma, os efeitos da tensão que tem mudado a rotina dos últimos dias.

 

Por outro lado, é necessário pautar a reflexão proposta. Afinal, o que estamos fazendo que gerou nesses leitores a sensação de mais pânico e terror? No jornalismo, a argumentação como forma de estarrecer a população ou horrorizá-la para a "onda de terror" apela para a carga emocional. E neste processo, imagens impactantes, como ônibus pegando fogo, centenas de policiais em ação, viaturas aos montes e veículos incendiados, exercem grande poder para o imaginário do público. É o que tem acontecido, é o que temos visto em todos os portais e perfis de notícia.

 

Como os ataques continuam e se pulverizam em áreas distintas do Estado, a cobertura se intensifica, e isso provoca no público leitor um sentimento de angústia ao abrir a tela e deparar novamente, mais uma vez, de novo, com aquele mesmo tema - um tema que, muitas vezes, não faz parte de sua rotina. Não se pode omitir a realidade nem privar o leitor das atualidades. Os acontecimentos extraordinários devem ser noticiados, sem espetacularização, sem fotos chocantes ou chamadas violentas que em nada ajudam no processo de informação. Não precisamos contribuir para aumentar a instalação do horror.

 

Férias

 

Estarei de férias a partir da próxima semana. Volto na segunda quinzena de fevereiro.

 

por Daniela Nogueira

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