PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

Desigualdade não é problema, diz economista que defende renda mínima

2017-11-26 00:00:00

Historiadora e economista, Deirdre Nansen McCloskey, 75 anos de idade, é considerada uma das maiores intelectuais no mundo. 

 

Escreveu 17 livros e mais de 300 artigos acadêmicos, abordando temas que vão da economia à história, passando pela literatura e pela ética. Deu aula por 12 anos na Universidade de Chicago, conhecida pela adoção da teoria liberal, da qual Deirdre é adepta.

Ela é respeitada pela qualidade de seu currículo e também por ter-se assumido como transgênero, sendo militante em defesa das liberdades individuais. Até 1995 seu nome era Donald, um homem casado, com dois filhos. Deirdre esteve no Brasil recentemente para dar palestras e lançar seu livro “Os pecados secretos da economia” (Ubu Editora).

Apesar de sua importância, só vim a saber dela devido à tarefa de curadoria voluntária ao qual Émerson Maranhão, meu colega aqui do O POVO se dedica, fazendo trabalho de excelência. Ele costuma passar a uma lista interna os textos que considera relevantes - e uma entrevista com Deirdre foi um deles.

Fiz a apresentação um tanto longa, pois suspeito que, como eu, alguns leitores também não devem conhecê-la. E, neste artigo, vou ater-me a comentar algumas questões relativas à economia abordadas por ela em entrevista aos jornais Folha de S. Paulo e Gazeta do Povo
(Curitiba-PR).

Primeiro, ela defende o pagamento de uma renda mínima à população, como vêm fazendo também diversos bilionários americanos (lembrem-se: ela liberal); mas é contra a valorização do salário mínimo, “que basicamente nos exime de responsabilidade e força os empregadores a pagar mais”; e qualifica como “desastre” qualquer tipo de proteção ao emprego, “inclusive para
pessoas transgênero”.

Mas ela afirma também que a desigualdade não é um problema em si, e que “não se incomoda” com ela, desde que todos tenham o mínimo necessário para a sobrevivência, pode-se acrescentar, devido à sua defesa da renda mínima.

Recentemente, Thomaz Piquet apresentou estudo mostrando que, nos últimos 15 anos, a desigualdade no Brasil não cedeu, apesar dos programas de complementação de renda dos governos do PT. O Fla-Flu entrou em ação para afirmar que caíra mais um “mito” da era petista.

Nesta coluna escrevi que o importante foi o fato de essas políticas terem tirado milhões de pessoas da miséria e afirmei que, “no limite, pode existir uma sociedade marcada pela desigualdade de renda, porém na qual todos tenham o suficiente para viver de forma digna”. Também, no limite, pode existir uma sociedade “igualitária” em que ninguém desfrute de uma vida decente. Isto é, a renda pode estar distribuída de forma equânime entre os habitantes, mas nenhum deles obtém recursos suficientes para sua manutenção satisfatória.

Mas acontece que as sociedades muito desiguais têm como contrapartida um enorme contingente da população lançada à miséria, sem qualquer tipo de proteção. Portanto, me atrevo a dizer que a condição para retirar as pessoas de forma sustentável da pobreza tem de, obrigatoriamente, passar pela redução
da desigualdade.

No entanto, pelo que Deirdre escreve, vejo possibilidade de os liberais verdadeiros (por óbvio, excluída a turma imbecilizada do MBL) e a esquerda chegarem a um acordo em relação à renda mínima universal, o que seria, no caso do Brasil, um passo gigantesco para tornar um país um pouco mais justo.


Liberal e contra as cotas
 

Duas frases de Deirdre Nansen McCloskey: 1) “Sou contra cotas e proteções para minorias, acho que isso cria o tipo de reação que levou ao (Donald) Trump (presidente dos Estados Unidos).” 2) “O liberalismo fez mais pelos pobres do que qualquer outro sistema na história.”

Crédito
Folha de S. Paulo: “Maré está virando, afirma economista transgênero sobre aceitação social” (https://goo.gl/Ge6hWf); Gazeta do Povo: “A desigualdade não me incomoda”, diz historiadora trans (https://goo.gl/wBNVqX); O POVO (“Menu Político”): “A desigualdade entre os brasileiros é chocante” (https://goo.gl/Fau7vG); “O capitalismo nos levará à utopia comunista?” (https://goo.gl/43o44D).

Plínio Bortolotti

TAGS