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Intolerância da esquerda ajuda a direita fascista

2017-09-10 00:00:00
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Pode não ser tanto, mas eu também enfrento a intolerância da esquerda, apesar de a maioria de meus textos sustentarem boa concordância com essa visão de mundo. Considero-me de esquerda (porém não um militante partidário), pelo menos do modo como a conceitua Norberto Bobbio. 



Segundo o filósofo italiano, a esquerda tem como propósito promover a igualdade entre os seres humanos e de lutar pela mudança da ordem social. A direita está em confronto com esses valores, pois considera a desigualdade intrínseca aos seres humanos. Porém, Bobbio valoriza o pluralismo na política, de modo geral, e na esquerda particularmente, pois, para ele, existem diversas formas de se buscar a igualdade.



É justamente nesse aspecto que uma certa esquerda peca pela intolerância extremista, na qual se iguala à extrema-direita, com seu ódio religioso a pensamentos “desviantes”. Isso, fatalmente, leva ao autoritarismo ou ao totalitarismo, a exemplo do stalinismo e do fascismo.
 


Já fui chamado até de “agente da CIA” no Twitter por militante de um certo partido comunista do Brasil por ter defendido o direito de a blogueira cubana Yoani Sánchez falar sem ser molestada ou agredida. Crítica do regime dos Castros, ela esteve no Brasil em 2013 para uma série de palestras - e passou perseguida em todos os lugares nos quais esteve.
 


Eu mesmo não mudo meu modo de pensar - nem vou me atirar nos braços de Bolsonaro - devido a essa orwelliana Polícia da Ideia. Mas quantas pessoas não se sentem desamparadas ao serem agredidas por manifestarem algum pensamento “proibido” ou se atreverem a dar uma opinião ocupando o “lugar da fala” de uma “minoria”? O diálogo, em vez da agressão, seria mais produtivo.

 

Um caso exemplar é contado pelo engenheiro americano James Damore, demitido do Google, por defender, em memorando interno, que a desigualdade entre homens e mulheres na indústria tecnológica é resultado de diferenças biológicas. Segundo entrevista concedida à revista Veja, ele foi chamado de “sexista”, “preconceituoso” e até de “nazista”.
 


Ele tem seus argumentos, entre eles, de que há, em média, interesses inatos diferentes entre homens e mulheres. Mas nem é o caso de debater o mérito do assunto nesse texto. A pergunta é: a demissão dele se justifica?
 

Damore diz que o ambiente “ultraprogressita” do Google chega a ser “sufocante”. “Pessoas com visões diferentes não podem dizer nada e são constrangidas ao silêncio”. Ele dá exemplos do que considera sufocante: “Perguntar para uma pessoa de onde ela é ou como se pronuncia seu nome pode ser entendido como uma forma velada de ofensa. Quando alguém diz para um grupo de pessoas ‘hi, guys’ (olá, rapazes), isso é considerado uma microagressão se há mulheres
no grupo”. Para ele, esse “ambiente horrível é como ser gay nos anos 1950”.
 


Certo ou errado, se o ambiente fosse dialógico, Damore teria continuado no Google, debatendo civilizadamente com seus colegas. Mas, como foi demitido, acabou adotado pelo que há de pior nos Estados Unidos: a direita que apoiou Donald Trump, que passou a defendê-lo. Porém, a liberdade de expressão deveria ser uma bandeira inalienável da esquerda.

 

Libertário
Classificando-se como um “libertário de centro”, James Damore diz ter votado em Gary Johnson nas eleições presidenciais vencidas por Donald Trump. Johnson é do Partido Libertário e teve 3,27% dos votos americanos.

Turba
“Não sou um cara maluco que escreveu algo terrivelmente racista. (...) Existe esse pequeno grupo de pessoas, o dos ‘guerreiros da justiça social’, que me culpou e disse que eu era uma pessoa terrível. Eles mandavam e-mails aos meus superiores pedindo a minha cabeça. São 5% que controlam todos os demais, pois todos têm medo dessa turba enfurecida”.

Crédito
Revista Veja: “Ser conservador no Google é como ser gay nos anos 1950” (https://goo.gl/baHPyD).

Plínio Bortolotti

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