Sobre debates e campanhas modorrentas
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Sobre debates e campanhas modorrentas

2018-08-12 00:00:00

 

Sim, foi um enfado absoluto o primeiro debate dos candidatos a presidente. Decerto o segundo, o terceiro, o quarto... serão também. Aliás, os programas eleitorais também tenderão a ser modorrentos. Não há nada, caro (e)leitor, que indique o contrário. Zero indício de revolucionário à vista em um cenário marcado pelo déjà vu. Já cantamos que o novo nem sempre vem. Acontece o pior quando os novos se mostram velhos.

A velhice é predominante no horizonte. Atinge do cabo ao capitão, do líder de invasões de imóveis a ex-governadores (havia três ali). Decerto, quem assiste a estes programas o faz ou na intenção de decidir - e com tantos nomes dispõe de muito pouco tempo para isto - ou para reforçar a rejeição, aquele sentimento de que votaria em qualquer um, menos naqueles. No mais das vezes chegam a ser ora risíveis - caso do cabo ex-deputado do Psol - ora apenas um panfleto, como o rapaz das invasões. A propósito, dois tipos de extremos abaixo da crítica.

Deverá se repetir. Quem vota em Alckmin talvez assista e vá dormir pensando que é o melhor a votar diante das opções.

Pensa: não surpreende, é insípido, incolor e inodoro, mas deve servir para estabilizar o barco. Quem vota em Ciro olha para a TV como quem tem amigo bonequeiro (no Ceará, quem gosta de arrumar confusão): torcendo para não dar vexame na festa.

Ciro, aliás, a despeito do malabarismo que lhe é peculiar, talvez seja o mais disposto a entrar em bolas divididas. É o seu jogo possível.

Quem vota em Bolsonaro ou em Boulos, diferentes, porém, bem parecidos, assim como seus militantes, apenas brilha os olhos. O mesmo aconteceria se Lula não fosse um presidiário e estivesse ali. São casos para a Psicologia e Teologia.

Ainda sobre velhice, antes do ataque das bengalas, chamemos de velho não os cabelos brancos, mas a insistência no jeito antigo de entrar na campanha. Por mais que estas sejam planejadas e ajustadas de modo meticuloso - desde os anos 1980 foram largando o empirismo no acostamento - é possível sim antever governos a partir delas. E isto inclui os debates.

Não há mimetismo 100% eficiente. Os sinais escapam. Lembram da então candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), em 2014, sugerindo em um debate à economista cearense Elizabete Costa Timbó, na época com 55 anos, que fizesse um curso do Pronatec para arrumar um emprego? Nonsense. Foi Dilma quem manteve o dela e deu no que deu.

Quando o debate for na província, a velhice estará presente. De modo virtual, na foto de uma romaria de adesistas a um, e na imagem da subordinação do outro. De um lado, no modelo velho de acomodar todo mundo na kombi chapa branca. Do outro, em um jipe verde oliva com placas de fora. Melhor estilo Geração Coca-Cola temporã.

Os candidatos são os menos culpados. No Ceará, as patentes se igualam em larga medida. Não existem lideranças na disputa ao Governo. Todos pertencem a grupos políticos que têm outros chefes. Quem um dia foi jovem hoje já não é mais.

Apesar de terem feito tudo o que fizeram, ainda são os mesmos. Camilo bate continência para os Ferreira Gomes, o general Theo para o marechal Tasso (patente dita pelo general).

Ancorado pelo cavalo de pau que conseguiu dar no seu Governo na metade da viagem, Camilo terá máquina, palanque, TV, agenda de investimentos públicos e, sobretudo, privados para exibir. Ao contrário da grande maioria dos estados da Federação, o Ceará não está afundado. Apesar de todos os erros em forma de extravagâncias aquarianas e afins.

A menos que ocorra uma imensa surpresa, uma tragédia e/ou uma campanha muito bem feita pelo tucano, não deverá ter acirramentos.

Temos todos os elementos para viver uma campanha ainda mais dormente.

Ouviremos ad nauseum sobre investimentos feitos e a fazer.

Tanto por Governo como oposição. Hospitais, carros de Polícia e concursos para médicos e PMs. Contudo, improvável que alguém assuma a realidade. Um mundo real onde em vez de mais médicos conta mais otimizar os que já há. Em vez de mais PMs, urge mais polícia judiciária para dar resposta aos crimes.

O mundo real tem mais verdade e mais emoção. Mas as campanhas costumam mesmo ter pouca realidade.

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