Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Agente vai se brutalizando e a Cidade acompanha a batida. É o medo, é o assalto, é o carrinho de mercantil que somos incapazes de removê-lo do estacionamento após nos servirmos.
Pode parecer besteira, mas é brutal com o outro interromper o caminho. Criar para alguém a impossibilidade de se deslocar.
É tão bruto quanto ir ao banheiro do trabalho, lugar naturalmente partilhado, e fazer cocô sem dar descarga. Mijar e não levantar a tampa do sanitário e jogar papel higiênico na sentina ou ao chão.
É tão escroto quanto tocar fogo em ônibus e deixar os outros a pé e na possibilidade até da morte. Imagine querer explodir um viaduto? Detonar uma agência bancária?
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Facção, por sinal, é uma palavra coitada. Embruteceu-se de uma maneira que nem de longe é mais associada a corte e costura, a um pedaço de bolo, a um compartimento particular da casa.
Homem e mulher, desses performáticos do crime, não nasceram com o adjetivo de criminoso. Nunca sonharam em ser bandidos quando "crescessem".
É grosseira a Cidade porque vamos desenhando a indelicadeza dia a dia, filho após filho, criança após criança, marido e mulher. Uma desgraça chamada senso comum que atravessa gerações.
Daí, talvez, a nossa disposição por morrer em um homicídio. Uma espécie de ser humano parido para ser "matado". Ou para espancar e dizer palavras desagradáveis.
O politicamente correto incomoda porque banalizamos o tabefe, a tortura, o linchamento e o tiro na testa.
Para alguns meninos é natural o estupro de quem veste minissaia e o fundo das calças está à mostra. Em vez do fim do socialismo, melhor o fim do machismo!
A Cidade fica estranha quando se revela brutal. Dentro de casa ou na rua. Seus meninos brutos, seus homens machos, suas moças escrotas, seus bandidos esquartejadores, seus políticos bom de discurso...
É tiro, porrada e bomba. A gente canta, a gente dança, rala os bichos no asfalto e balança a bundinha no funk das facções.
A Cidade no avesso da brutalidade, parece, é só uma possibilidade. No fundo, no fundo, a gente gosta é de cortar a língua do boi.
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