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Missa do primeiro domingo da primavera

00:00 | 24/09/2017
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Para não cairmos na cacimba, feito cachorro doido e aperreado, só vai se nos juntarmos em coletivos para exigir uma Cidade que nos caiba também. Acabrunhamento, nessa hora de Fortaleza e dos ventos que vêm de Brasília, é deixar reinar os que insistem na urbe dos conluios particulares e apenas dos clãs.


Talvez voltar a exercer a potência que já tivemos (mais) quando meninas e meninos. O “frivião” que corria o corpo estava nos couros e no rabo quando amanhecíamos feito bicho solto e a mãe enlouquecida.

“Diabo de criatura, danada!”


“Danado”, no dicionário da criação solar, também descrevia a energia de não se contentar quieto. Criança calada demais, no canto, entristecida... ou era febre ou violência de várias covardias. Poderia também ser leveza incompreendida.


Um livro que gosto indizível, O Reizinho Mandão, da Ruth Rocha, parece com umas coisas dessas e a necessidade de se ajuntar em magote para gritar aos falsos dialogadores que vazem para a ponte que caiu.


Imagine alguém se arvorar de mandar a Cidade toda calar a boca, não dar nem um pio. Quando pirralho, foi uma das primeiras violências que me constrangeu. Talvez meu pai, talvez minha mãe ou talvez um menino bem maior do que nós.


Tem a dor do bufete, a chibatada sentida da lapada do cinturão, o esfolado da peixeira amolada, a ardência da correia da Singer nas pernas... até o tiro que fede a carne esturricada... mas querer ser dono do silêncio dos outros? Isso dói tanto! Mata.


No reinado inventado por Ruth Rocha, o rei manda todo mundo se calar. Dos nobres às aias, do canelau a quem estava na barriga para nascer. Até as cigarras. Até os sapos na teima por chuvisco na lagoa.


Tão abestado o rei que, depois, sentiu uma infinita infelicidade porque o reino virou um oco e nenhum um grilo cantando dentro. Tanto calaram que esqueceram como era falar. Não tinha nem um saquinho com resto de palavras nem indignações.


Não contarei o final da história, podem reinventar ou a gente se lasca. Só sei que as cidades estão caladas demais e aceitam tudo goela abaixo. Resmungam aqui e ali, mas depois bebem água e vão dormir...

Podem morrer durante o sono.


Sim, e sobre o título da coluna? O que tem a ver com essa crônica? É só um escape de felicidade. Até domingo se a gente não cruzar, antes, por alguma rua.


DEMITRI TÚLIO é repórter especial e cronista do O POVO 

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