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Recado ao presidente Bolsonaro

2019-01-03 01:30:00
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Presidente: já que o senhor demonstrou firme disposição em operar uma reviravolta e eliminar velhos bolores que infestam todos os níveis da administração pública, permito-me, respeitosamente, sugerir medidas relativas ao setor automobilístico.

 

Contran/Denatran

A receita é simples: realizar uma faxina completa no órgão, removendo toda sua arcaica, viciada e incompetente estrutura, sem deixar pedra sobre pedra. O motorista brasileiro não aguenta mais tantos caprichos, idas e vindas, decisões tolas, atabalhoadas e óbvia submissão a interesses econômicos. Cansou de perder tempo e dinheiro com estojinho de primeiros socorros, extintor de incêndio, brasões do estado e município na placa Mercosul e outras tantas. Mas não vê autoridade nem competência para implantar a inspeção veicular prevista há vinte anos pelo Código de Trânsito Brasileiro. Para proibir boias-frias em carroceria de caminhão e caçambas de picapes adaptadas para transporte de passageiros. Para registrar no documento do carro que seu dono não o levou para o recall. Para regulamentar cadeirinhas infantis em vans escolares e táxis. Para moralizar essa ridícula e ineficiente formação de motoristas, definida pelo próprio presidente da entidade das escolas como "o professor finge que ensina, o aluno finge que aprende"?

 

Maracutaia do DPVAT

O que mais espera o Ministério da Fazenda para extinguir este mal-explicado monopólio, único no mundo, do seguro obrigatório? O brasileiro já foi roubado em bilhões de reais, a Polícia Federal já investigou e relacionou as quadrilhas que assaltaram os cofres da malfadada Seguradora Líder. Até hoje ninguém foi preso nem devolveu um centavo ao contribuinte.

 

Segurança Veicular

O Poder Executivo só faz de conta que se preocupa com ela. E o Legislativo só se movimenta estimulado por lobistas de empresas poderosas. O Inmetro é um descalabro, vive escorregando ao homologar e certificar componentes de reposição e deixa correr solta a picaretagem no mercado. A proteção aos ocupantes dos nossos carros é analisada por uma entidade uruguaia (LatinNCAP). Que segue seus próprios critérios e passamos a vergonha de ver nossas fábricas submetidas às regras impostas pelos uruguaios. Ou pela legislação argentina de equipamentos de segurança, mais atualizada que a brasileira e que nos obriga a segui-la, pois é para onde segue o maior volume de nossas exportações. De dar vergonha, não?

 

Combustíveis

Decisões continuarão mesmo a serem definidas pelos interesses de poderosos grupos econômicos? Por que o diesel, proibido para automóveis, foi permitido para SUVs de luxo? Até quando a ANP vai adiar a obrigatoriedade da gasolina aditivada? A Petrobras manterá o monopólio do refino da gasolina e importação do GNV? Os postos serão indefinidamente proibidos de implantar, como em qualquer país do Primeiro Mundo, o atendimento self-service?

 

Educação

País que não educa o cidadão para o trânsito desde a infância jamais verá respeitadas as faixas de pedestres. Nem ficará livre do lixo jogado pelas janelas dos automóveis e dos acidentes provocados pela imprudência e desrespeito à legislação.

 

Fiscalização

Verdade seja dita: adiantou o exagerado rigor da Lei Seca para reduzir o número de mortos nas ruas e rodovias? Ou alcançaríamos melhores resultados com uma fiscalização mais eficiente nas ruas?

 

Legislação

Nem Kafka seria capaz de imaginar um sistema tão surrealista em que infrações de trânsito não são - aparentemente - cometidas pelo motorista, mas pelo próprio automóvel. Tanto que, ao ser vendido, as infrações pendentes são transferidas para o novo proprietário. Outro surrealismo: pontos negativos no prontuário podem cassar a licença do motorista. Mas até infrações administrativas, como atraso na transferência de propriedade por problemas burocráticos, também podem tirar o motorista do volante.

 

Política pública

O Brasil imagina que a mal-ajambrada mistura de 27% de álcool à gasolina é tudo que se pode fazer para tornar o derivado da cana nossa alternativa energética no futuro? Por que nosso governo não estimulou ainda o desenvolvimento de veículos elétricos movidos por álcool? Impossível? Nem um pouco: carros com esta tecnologia já rodam rodam experimentalmente? mas em outros países.

 

Estamos de dedos cruzados, presidente!

 

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