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Carro flex: Internet só divulgabesteirol

2019-01-10 01:30:00
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Quase dezesseis anos depois de seu lançamento (em março de 2013), o carro flex ainda confunde o motorista. E a internet ainda reforça a confusão com dezenas de dicas sem pé nem cabeça. Uma delas preconiza que, se o motorista sempre abastece com o mesmo combustível, é necessário passar eventualmente (cada quatro tanques?) para o outro.

 

Essa e muitas outras não têm o menor fundamento técnico. Já ouvi relato de motorista que foi pegar carro zero km na concessionária e o vendedor, solícito, explicou que os primeiros quatro abastecimentos deveriam ser exclusivamente com etanol e só depois optar pela gasolina.

 

Tem outra: se abastecer durante muito tempo com etanol, no dia em que passar para gasolina, o carro não "aceita", pois se "acostumou" com o outro. E vice-versa, da gasolina para o etanol. Tem mais besteirol: antes de mudar de combustível, deve-se rodar até esvaziar o tanque.

 

Tudo conversa para boi dormir, pois o carro flex foi projetado para ser abastecido com qualquer dos dois combustíveis, gasolina ou álcool. Puros (100% de um ou do outro) ou com qualquer percentual deles (50% de cada, por exemplo).

 

Vale uma observação: se o motor não aceitar qualquer destas alternativas é sinal de problema num sensor colocado no escapamento exatamente para que ele seja flex e funcione com qualquer dos dois combustíveis. É chamado de "sonda lambda" e avalia o teor de oxigênio dos gases provenientes da combustão. É capaz, assim, de informar à central eletrônica qual combustível está vindo do tanque: gasolina, álcool ou mistura deles.

 

Como explicar então que o vendedor de uma concessionária recomende os primeiros abastecimentos sempre com álcool? Descobri o motivo: a fábrica sempre faz o primeiro abastecimento do tanque, na linha de montagem, com etanol, pois só produz carros flex. Então não faz sentido estocar os dois combustíveis. Como o etanol é mais barato?

 

Uma das "dicas" mais recentes circulando na internet a respeito do carro flex é a recomendação de não estacionar o carro à noite imediatamente após abastecer com etanol se o tanque tinha gasolina. A explicação é que o motor poderia ter dificuldade para pegar na manhã seguinte.

 

Pode até acontecer, mas é fato raríssimo, quase tão difícil quanto ganhar na loteria, pois só mesmo numa difícil e improvável conjunção de fatores. Primeiro, a temperatura ambiente deve estar muito baixa, inferior a 15º C. 

 

Segundo, o carro ainda deve ter o sistema do tanquinho auxiliar de gasolina, que é acionado pela central eletrônica quando ela percebe o tempo frio e o etanol no tanque. E mais: a dificuldade para o motor "pegar" de manhã é somente se o carro tiver rodado tão pouco entre o posto e a garagem que o etanol ainda não tenha chegado ao sistema de injeção e a sonda lambda ainda não detectou a mudança de combustível no tanque.

 

Vale também lembrar que o problema, embora raro, só acontece quando se troca gasolina por etanol. Se for o inverso, não há dificuldade alguma em fazer o motor funcionar, pois o etanol é que dificilmente vaporiza em baixas temperaturas.

 

Outra regrinha que não funciona mais é do custo de etanol em relação à gasolina para que seja interessante (financeiramente) sua utilização. Nos primeiros carros flex, o índice era de 70%, pois essa era a diferença de consumo entre os dois combustíveis. Com a evolução do motores e do próprio álcool, o percentual pode chegar a 75%. Mais correto é o motorista verificar o consumo de seu carro com cada combustível para determinar o índice real.

 

Em relação a poder ou não usar sempre o mesmo combustível

 

1 - Sim, pode-se usar etanol ou gasolina desde o primeiro abastecimento;

 

2 - Pode-se alternar ou não etanol e gasolina;

 

3 - Pode-se misturar os dois combustíveis em qualquer percentual;

 

4 - Pode-se mudar de um para outro e mantê-lo quanto tempo quiser.

Boris Feldman

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