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"Terra de ninguém"

2017-10-19 01:30:00
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SEU CARRO SOFREU
um acidente, é necessário trocar um farol e você o procura no mercado. Vai na concessionária que tem o “genuíno”, na embalagem da montadora. Ou nas lojas de peças, que o oferecem por um preço menor, produzido e embalado pelo mesmo fornecedor da montadora. Vale a pena levar o “genuíno” ou não justifica pagar mais por ele?
 


 

O VENDEDOR DA CONCESSIONÁRIA admite que o farol não é produzido pela fábrica do automóvel (mas pela fornecedora terceirizada) porém é garantido e submetido a controle de qualidade. O vendedor da loja de peças diz que seu farol é produzido pelo mesmo fornecedor da fábrica e a única diferença é da embalagem. É mais barato por ter um intermediário a menos: ele o recebe direto do fornecedor enquanto o da concessionária passa antes pela montadora.

Atualmente, Fiat, Ford e VW estão em pé de briga com as fábricas de peças que atuam no mercado de reposição. Alegam que investiram bilhões nos projetos de seus carros e patentearam seus desenhos industriais, inclusive dos componentes.
 


E O FABRICANTE DE PEÇAS? Se é fornecedor da montadora, tem um acordo permitindo (ou não) abastecer o mercado paralelo. Entretanto, existem também vários fabricantes de peças que não fornecem para a montadora, mas fazem a chamada “engenharia reversa”. Dissecam um farol “genuíno”, registram suas medidas, materiais e outras características, e a partir destas informações produzem uma peça similar à original. Que pode (ou não) ter a mesma qualidade.
 


NA BATALHA JUDICIAL, as três montadoras pedem a proibição da reprodução alegando desrespeito aos seus direitos autorais. As fábricas independentes são defendidas pela Associação Nacional das Fabricantes de Autopeças (Anfape) e não concordam com a exigência de pagar às montadoras pelos desenhos. A Anfape entrou no CADE com uma representação há cerca de dez anos. No último capítulo desta novela, o Ministério Publico Federal acaba de afirmar que a conduta das montadoras “é abusiva e afeta negativamente a economia do país e os consumidores”, o que leva a crer que a decisão final será favorável à Anfape. Vale observar que outras grandes marcas como a GM não entraram nesta briga e não se opoem à produção de peças similares. E como fica o consumidor nesta troca de chumbo?
 


SUJEITO A LEVAR BALA PERDIDA, principalmente por uma perniciosa distorção tipicamente brasileira: no Primeiro Mundo, ninguém coloca no mercado qualquer peça de automóvel que não tenha sido certificada (“selo de qualidade”) por um órgão homologado pelo governo. Na nossa “terra de ninguém”, o processo de certificação engatinha há anos pois é de responsabilidade do Inmetro, uma repartição pública, órgão subordinado ao MDIC (Ministerio do Desenvolvimento, Industria e Comercio). Que certificou apenas uma meia-dúzia de peças (16, para ser mais preciso) entre as milhares de um automóvel. A Anfape pode até defender empresas sérias. Mas se ganha a causa, vai beneficiar também as do tipo “fundo-de-quintal”, que vão deitar e rolar pois não há certificação nem fiscalização. Não tem como separar o joio do trigo.
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NESTE IMBRÓGLIO DO MERCADO de reposição, as peças podem ser:
- “genuínas” (ou originais) encontradas na rede de concessionárias, com qualidade assegurada pela montadora;
- “cativas”, produzidas exclusivamente pela montadora e só disponíveis nas concessionárias;
- produzidas pelas fornecedoras da montadora, porém vendidas também pelas lojas de peças, com embalagem própria;
- produzidas por fábricas que não fornecem à montadora, mas de reconhecida qualidade e tradição no mercado;
- fabricadas num “fundo de quintal”, importadas de alguns países asiáticos, ou falsificadas.
 


AO CLIENTE QUE RESISTE à peça da concessionária, só resta confiar na recomendação de seu mecânico ou dono da loja de peças, pois está desamparado pelo governo federal, que não dá pelota para o assunto. Nem para vários outros que igualmente envolvem segurança veicular. 

 

 

Por Boris Feldman

Adriano Nogueira

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