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A matemática está em tudo

2017-10-08 00:00:00
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Por José Evangelista

 

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A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, iniciativa anual do Ministério da Ciência e Tecnologia, ocorrerá de 23 a 29 de outubro e tem como tema a afirmação contida no título desta coluna. Nos dias de hoje, essa constatação é quase trivial, sem deixar de ser importante. Mas, serviu para me despertar uma dúvida: onde estão as mulheres matemáticas?


Não apenas no Brasil, mas, na maioria dos países, a percentagem de mulheres exercendo a profissão de matemática é muito baixa. No Departamento de Matemática de nossa UFC, por exemplo, de 45 docentes apenas 3 são mulheres.


Deve haver uma razão para essa disparidade que não se liga apenas à concepção de que “matemática é coisa de meninos”. No mundo atual, essa noção de diferença na capacidade dos gêneros vem sendo contestada e desmentida em muitas atividades físicas ou intelectuais.


Pesquisadores já notaram que uma das razões para esse desequilíbrio se deve à crença de que é necessário ser “brilhante” para ser matemático. Essa ideia errônea leva as famílias a dirigir suas filhas para carreiras ditas pretensamente mais acessíveis. Desta forma, mesmo as meninas mais dotadas são impedidas de seguir as profissões de matemática ou física. De tanto ser incutida, a lenda torna-se real.


Pois veja um resultado que mostra, na contramão dos preconceitos, onde de fato a diferença de desempenho matemático entre meninos e meninas surge invertida de modo surpreendente.


O Pisa, programa internacional de avaliação de jovens estudantes, tem uma escala numérica que informa a diferença das notas obtidas entre os gêneros. Nessa escala, o zero indica desempenho igual para meninos e meninas. Índices mais positivos representam uma diferença a favor dos meninos. O Brasil aparece nessa lista com índice %2b15, indicando que o número de meninos brasileiros bem avaliados nos testes do Pisa é 15 vezes maior que o número de meninas com o mesmo nível de proficiência. E em quase todos os países ocidentais, e na maioria dos asiáticos, esse índice aponta vantagem numérica dos meninos.


E a surpresa surge quando se observa que os índices mais negativos, isto é, aqueles onde o número de meninas bem avaliadas supera o de meninos, são alcançados em países do Oriente Médio. A Jordânia (com índice -24), o Catar (-16) e os Emirados Árabes (-7) são os países que apresentam os melhores resultados para as meninas entre todos que participam dos testes. E isso acontece não apenas na matemática. Também em leitura, as meninas de véu na cabeça superam os garotos.


Aqui cabe lembrar que a única mulher a ganhar a Medalha Fields, prêmio máximo da Matemática, foi Maryam Mirzakhami, nascida e formada no Irã, país que restringe os direitos das mulheres por razões religiosas. Mesmo assim, sabe-se que o Irã e outros países muçulmanos têm uma tradição de ensino de qualidade.


Meu colega na UFC, professor Marcus Vale, deu um palpite para explicar esse resultado. Ele acha que as meninas muçulmanas, vestidas da cabeça aos pés, são impedidas, por essa razão prática, de disputar as olimpíadas esportivas e acabam dedicando-se aos estudos com mais interesse, demonstrando, desse modo, que são tão capazes quanto os meninos, ou mais. E assim desmentem o mito preconceituoso da inferioridade de gênero. Com oportunidade e sem preconceito, as meninas brilham.


A conclusão que podemos tirar dessas observações é que as garotas talentosas são muitas e deveriam sair do armário com o estímulo de suas famílias para se dedicar ao estudo das ciências e da matemática sem nenhum pudor.


A SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA (SNCT)


Várias organizações cearenses ligadas às áreas de ciência e tecnologia estão preparando atividades que acontecerão durante a SNCT, de 23 a 29 de outubro.


Como todo ano, os eventos buscam se relacionar com o tema escolhido. Em 2017, ele é “A Matemática está em tudo”. A Seara da Ciência, órgão de divulgação científica da UFC, situada no Campus do Pici, já tem um calendário de atividades que inclui exposições, palestras, peças teatrais, oficinas e gincanas. Entre as palestras confirmadas, apresentadas por professores da UFC, estão títulos como “Sem matemática não tem futebol”, “Música e Matemática” e “Mulheres matemáticas”.


Todas as atividades serão gratuitas e abertas ao público em geral. Espera-se, principalmente, a participação de estudantes e professores de todos os níveis.


Mais informações podem ser encontradas na página da Seara, em www.seara.ufc.br

 

Adriano Nogueira

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