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Veja resenha do filme Frantz, de François Ozon
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Veja resenha do filme Frantz, de François Ozon

Em seu 17º longa, François Ozon mostra a Alemanha após a I Guerra Mundial, a partir da história de uma jovem alemã e um soldado francês
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Filmar uma guerra é mostrar sangue e glória. Filmar um pós-guerra é mostrar sofrimento e dor. Em seu 17º longa, o francês François Ozon busca esmiuçar o ódio entre Alemanha e França logo após o armistício que seguiu a I Guerra Mundial e a dor, único espelho que os aproxima. Frantz, refilmagem de Não Matarás (1932), de Ernst Lubitsch, mas que, em vez de focar na culpa, mostra a transformação de um sentimento de ódio.


No centro desse vórtice, uma jovem alemã e um soldado francês. Ainda em luto após a perde do noivo, Anna (Paula Beer) segue próxima aos quase sogros. Um dia, em uma visita ao cemitério, ela vê um francês depositando flores junto ao túmulo do amado. Lentamente e com insegurança, Adrien (Pierre Niney) se aproxima de Anna e da família de Frantz Hoffmeister (Anton von Lucke). Lá, a memória de um filho idealista ajuda a ninar o luto de pais destroçados.

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O principal mérito de Ozon é ressaltar os olhares enviesados que circundam a presença de Adrien na pequena cidade alemã de Quedlimburgo. Num primeiro momento, o diretor mostra o sentimento de nacionalismo presente ali, na Alemanha, para dar vazão a uma leitura sobre o nascimento do nazismo. Revoltados com o Tratado de Versalhes, pais enlutados bebem cerveja e cantam o hino alemão. Já no segundo ato, Ozon responde a isso mostrando uma sequência espelhada em um bar francês.


O luto aproxima Adrien de Anna e dos pais de Frantz, Hans (Ernst Stötzner) e Magda (Marie Gruber). Ozon muda o foco de Lubitsch, que era no personagem masculino, e adiciona novas camadas com a protagonista feminina. Para além disso, ele constrói Adrien como uma figura muito mais misteriosa. De cara, é possível se ler um segredo oculto na fisionomia frágil do musicista e ex-soldado. Mais que isso, Ozon guia o olhar para outras respostas. Chega a indicar a possibilidade de um romance passado entre Adrien e Frantz, ou mesmo um confronto durante a guerra. Ao conseguir segurar o suspense, o diretor constrói um primeiro ato fenomenal.


Há, cá e lá, certos maniqueísmos insistentes e que destoam da consistente construção da trama. O principal deles é Kreutz (Johann von Bülow), que funciona como antagonista em parte da trama e acaba surgindo de forma excessivamente conveniente. De certa forma, isso destaca a falta de sutileza de François Ozon em alguns momentos. Outro exemplo bem notável é o esquema de cores da direção de fotografia. Quase todo em preto-e-branco, o filme se ilumina em cores pela primeira vez em um flashback da amizade de Adrien e Frantz, algo que traz uma beleza e um vigor à cena. Só que, em sequência, o recurso é reutilizado a cada momento de felicidade vivido entre Anna e Adrien. Parece uma legendagem, bem dispensável.


Para além disso, Frantz mantém um ritmo extremamente eficiente até o fim do segundo ato. Já a perna final da obra promove uma queda brusca justamente por o filme perder o centro principal da trama. E aqui, aviso que há um spoiler do (óbvio) plot twist do fim do primeiro ato. O que une Anna e Adrien é a mentira. É o ato de renunciar a verdade para proteger alguém – seja aos pais de Frantz ou a si mesmo. Uma conclusão que fuja deste tema acaba apequenando uma obra cheia de grandeza.

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