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Secretário da Cultura Fabiano Piúba fala ao V&A sobre Bienal do Livro
Vida & Arte

Secretário da Cultura Fabiano Piúba fala ao V&A sobre Bienal do Livro

Envolvido com os últimos preparativos da XII Bienal do Livro, o secretário da cultura do Ceará, Fabiano Piúba, falou ao V&A sobre as mudanças no formato do evento e o novo momento da literatura no cenário nacional
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Para a 12ª edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará, que acontece a partir do próximo dia 14, a ideia é mesclar ainda mais os formatos de feira e festa literária. O que se busca é um equilíbrio entre as dimensões comerciais e de formação de leitores. Além de vender livros, o evento quer destacar uma programação gratuita de encontros, debates e mesas de conversas.


Guiado por essa intenção, o titular da pasta da cultura no Ceará, Fabiano Piúba, desenhou ao lado de Mileide Flores, coordenadora de políticas do livro e da leitura, um projeto que se ergue sobre quatro eixos - econômico, cultural, educativo e cidadão. Na curadoria do evento estão os professores Cleudene Aragão e Kelsen Bravos e o jornalista e escritor Lira Neto.

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O tema desta edição, “Cada pessoa, um livro; o mundo, a biblioteca”, reflete a preocupação da equipe com a dimensão humana no ciclo da leitura, como explica Fabiano na entrevista a seguir. Assumidamente inspirado em eventos como a Feira do Livro de Porto Alegre (que existe há mais de 60 anos) e a Feira do Livro de Passo Fundo (cidade com o maior índice de leitura por habitante no País), ele acredita que o livro é o elemento básico para a construção de uma “paisagem interior”.


O POVO - No ano passado vocês anunciaram que a Bienal seria transferida para 2017. Entre outros motivos, para escapar do ano eleitoral. Como vocês trabalharam para reverter a impressão negativa que ficou do evento de 2014, uma Bienal que foi mais esvaziada comercialmente e que registrou queixas de expositores?

Fabiano - A mudança teve um caráter muito prático que foi sair dos anos eleitorais. Esse é o argumento fundamental. Os anos eleitorais criam mil dificuldades para a realização da Bienal. E pra captação também gerava uma certa dificuldade, porque a Bienal, historicamente, é uma composição de recursos diretos da Secretaria da Cultura e da Lei Rouanet. Era uma discussão que já vinha há muito tempo e só faltava a decisão. A gente sabia que ia ter um prejuízo, porque passaríamos três anos sem ter uma Bienal, mas entraríamos em um ciclo que vai pro ano ímpar, então não teríamos esse impacto das restrições das eleições. 

 

OP - Como o projeto da Bienal foi redesenhado para 2017?

Fabiano - Partimos de uma avaliação que não é recente. O Cerlalc (Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe - entidade da Unesco) publicou um guia para feiras de livros para a América Latina. Tem artigos de várias pessoas, inclusive um que eu escrevi, o qual inicio fazendo uma avaliação de que esses modelos de feiras estão esgotados, os modelos voltados essencialmente para a dimensão comercial, e que precisávamos reinventar. Essa reinvenção vem sendo feita. Nesse artigo eu coloquei que uma feira de livro tem que ter as dimensões econômica, cultural, educativa e cidadã. Isso se traduz também nos eixos do Plano Nacional do Livro e Leitura: acesso, formação e fomento à cadeia criativa e produtiva. Pensamos esses eixos como componentes da programação.

OP - Como equilibrar os elementos comerciais e culturais em um evento assim? A ideia é conciliar os formatos de feira e festa literária?

Fabiano - A nossa Bienal desde o início procura mesclar essas coisas. É uma feira comercial mas tem um papel de formação. O modelo que prioriza apenas a movimentação financeira está esgotado. A Bienal tem que ter essas dimensões que citei. Tem que criar um ambiente que possibilite o acesso ao mundo do livro e do conhecimento, e a Bienal do Ceará, desde o início, tem acesso gratuito. Também tem que ser um espaço substancialmente de formação de leitores, para despertar e afinar o hábito da leitura. Além disso, precisa fomentar a cadeia criativa e produtiva do livro no Brasil. E tem a movimentação financeira, que também é importantíssima.
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OP - Falando em economia e levando em conta a força de plataformas como a Amazon, que vende livros a preços reduzidos, o senhor acha que o livreiro ainda tem condições de competir com uma super empresa? As pessoas ainda visitam a Bienal para comprar livros?

Fabiano - Eu creio que sim. A Bienal é um lugar de encontro, de convivência. Pelo que eu tenho visto nas bienais do Rio e São Paulo, as sacolas de compras estão aumentando. Houve uma boa movimentação financeira. Essa nossa Bienal está em um cenário de experiência para ver como, num momento como esse, as pessoas vão comprar livro, se os expositores vão ficar satisfeitos ou não. De qualquer forma, houve uma queda no número de expositores em torno de 25% em relação a 2014. Nós vivemos um período de crise dos lugares do livro e da leitura - as bibliotecas, livrarias e escolas -, o que gera uma crise de ressignificação do papel dessas pessoas, desses mediadores, livreiros, bibliotecários. Mas essas bienais contam muito com as compras do poder público por meio do vale-livro, uma parceria que fizemos com a Prefeitura de Fortaleza. É uma sistemática para os professores, serão 8.500 professores beneficiados. Você já tem garantia de uma movimentação financeira expressiva. Nós não conseguimos neste ano os vales para os estudantes, e isso é uma frustração pessoal.

 

O POVO - De onde veio a ideia de convidar o Lira Neto para a curadoria?

Fabiano Piúba - Nós queríamos um nome pra oxigenar o evento. Alguém que pudesse juntar autores dessa nova safra da literatura brasileira e de fora do País. O Kelsen Bravos disse o nome do Lira e nós esquecemos os demais. O Lira é formado em letras, é jornalista, escritor, biógrafo, tem participado do circuito de feiras no Brasil e é um cara daqui.

OP - O Lira, a Cleudene e o Kelsen realizaram o projeto curatorial em cima daqueles eixos que o senhor citou?

Fabiano - Sim, levaram em conta esses eixos. Eles já tinham esse alinhamento, era muito consensual. Mas o que guiou mesmo os curadores foi o tema da Bienal, que surgiu como uma proposta da Mileide. O tema traz a ideia do acervo humano humano e do acervo planetário. Cada pessoa tem uma história e uma memória, é um patrimônio cultural assim como o livro. E a conjugação dessas pessoas é a biblioteca. A literatura nos possibilita gerar uma paisagem interior e isso é uma boa imagem pra esse conceito. Então estamos trabalhando essa metáfora.

OP - Eles tiveram carta branca pra essa curadoria ou vocês estabeleceram, por exemplo, uma cota para autores locais?

Fabiano - Não, é tudo com eles. Eles só tinham a premissa de tratar autores locais com a mesma valoração com que tratamos os autores de fora.

OP - Também percebi que a curadoria tomou o cuidado de selecionar representantes de diversos temas e áreas do conhecimento.

Fabiano - Buscamos a diversidade, esse foi outro conceito. Essa pessoa-livro implica numa diversidade étnica que é ao mesmo tempo cultural. São matizes distintas de pensamento. Não houve qualquer filtro ideológico. (Jáder Santana)

 

SERVIÇO

 

XII Bienal Internacional do Livro do Ceará

Quando: de 14 a 23 de abril

Onde: Centro de Eventos do Ceará (avenida Washington Soares, 999 - Edson Queiroz)

Entrada gratuita
 
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