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Entrevista com Silvio Guindane, diretor do musical "Ceará Show"
Vida & Arte

Entrevista com Silvio Guindane, diretor do musical "Ceará Show"

Diretor do musical Ceará Show, o carioca Silvio Guindane conversou com o V&A sobre quebra de rótulos e o olhar de fora para a cultura nordestina
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Se há um povo que é retratado de forma estereotipada pela dramaturgia brasileira é o nordestino. E o cearense não foge à regra. Era exatamente disso que Silvio Guindane queria escapar quando foi convidado para dirigir o espetáculo fixo Ceará Show, em cartaz desde setembro do ano passado no teatro homônimo, em Fortaleza. O musical se apresenta como opção na noite do mercado turístico da Capital e também como uma oportunidade do cearense conhecer sua própria história.

 

Mas, para que a engrenagem deste negócio funcionasse, era necessário ser genuíno e tentar se despir do ranço dos rótulos, das imagens preconcebidas e do sotaque falso, que apenas fragilizam o conhecimento sobre a cultura do Estado. “Minha maior preocupação foi me apropriar e não ter uma visão de fora, mas, sim, uma visão de dentro”, conta o diretor, que também é ator e dramaturgo.


Guindane conversou com O POVO um dia antes de voltar para o Rio de Janeiro, depois de mais uma temporada em Fortaleza. "O Ceará, muitas vezes, é retratado fora do Estado de forma muito pejorativa, inclusive, na dramaturgia. Este é um dos motivos para o projeto existir”, definiu o diretor. “Tinha o motivo negócio, claro, que é o Ceará ser um dos estados com maior turismo no Brasil. E aqui há pouco entretenimento voltado para os turistas à noite”, pondera.

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Com uma carreira na televisão e no cinema iniciada aos 11 anos de idade, vários prêmios e um currículo que inclui ainda a direção teatral, Guindane teve de estudar a cultura, a história e o cotidiano cearense, para que pudesse moldar as narrativas. O diretor já tinha uma relação anterior com o Estado. Conhecia cidades, como Juazeiro, Crato e Canindé, além de ter vindo à Capital acompanhar o festival Cine Ceará. Mas para montar o Ceará Show foi necessário fazer uma imersão e morar quatro meses por aqui. “Foram mais de mil páginas de pesquisa. Paulo Linhares (diretor do Instituto Dragão do Mar) foi um dos consultores, que me contou muita coisa sobre os caminhos que eu iria tomar nesta pesquisa”, conta.


Sem didatismo

“O grande segredo é o seguinte: a história do Estado, isso você consegue achar nos livros. O problema é como fazer uma dramaturgia original, em que você conte a história deste estado, sem ser algo didático, sem cair no lugar comum. Que seja um musical, uma peça, que tenha uma conduta abrangente.”

 

Na imersão, Guindane conheceu Seu Lunga, Jovita Feitosa, Dragão do Mar, Iracema, Moacir (filho de Iracema), e tantos outros personagens que construíram as ramificações de nossa história. E eles estão no espetáculo. Muitos espectadores cearenses, contudo, não conhecem as histórias das figuras ali retratadas. Ignoram a própria memória. “A Jovita Feitosa, por exemplo, é uma personagem pouco conhecida. É uma mulher que se vestiu de homem para tentar ir para a guerra (do Paraguai)”, ressalta.


Generosidade

Os mais de 40 artistas que atuam no espetáculo musical falam sobre o que nosso Estado tem. São todos artistas cearenses - muitos com a primeira experiência no palco -que atuam para uma plateia com a maior parte das cadeiras ocupada por turistas. E, para Guindane, o que tem de mais significativo para mostrar ali sobre a personalidade do cearense é a generosidade.

 

“É que a gente vai perdendo (a generosidade), com o dia a dia. Estamos em um mundo em que esquecemos de amar. A gente está cada vez mais árido, ficando cada vez mais conservador, mais preconceituoso, mais fechado em nichos. A gente bota um muro para separar os Estados Unidos do México.”

 

SERVIÇO

 

Espetáculo Ceará Show

Quando: de quinta a domingo, sempre às 20h30min

Onde: Teatro Ceará Show (av. Abolição, 2323 - Meireles)

Quanto: entre R$ 20 e R$ 90

Ingresso online: http://migre.me/w6PIB


Saiba mais


A narrativa do espetáculo musical começa quando o protagonista, Moa, decide fugir de casa para ir em busca de Cecília, seu amor de infância que foi morar no sudeste com os pais. Em cena, está o avô de Moa, seu Dito, cúmplice do sonhador protagonista. Eles partem em uma jornada para conhecer histórias que costuram mitos e tradições da cultura cearense.

 

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