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Coletivo As Travestidas estreia espetáculo Trans-Ohno
Vida & Arte

Coletivo As Travestidas estreia espetáculo Trans-Ohno

Novo espetáculo das Travestidas segue investigação do coletivo sobre o universo trans a partir de referência de dança-teatro japonesa
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O mais recente trabalho do coletivo As Travestidas nasceu de forma espontânea, a partir de referências buscadas pelo bailarino e artista Diego Salvador, membro do grupo. O resultado das inquietações do performer é o espetáculo Trans-Ohno, que aproxima a pesquisa do universo trans de alguns aspectos inspirados na dança-teatro japonesa Butoh, criada na década de 1950 pelos coreógrafos Kazuo Ohno e Hijikata Tatsumi.


No espetáculo Cabaré das Travestidas, ligado ao transformismo das boates, Diego, inspirado em Ohno, quebrava essa linha. “Levei o lado da dança e da performance ao Cabaré, algo mais desconstruído. Eu sabia que o Ohno era uma pessoa muito importante, mas não pesquisava muito sobre o Butoh”, detalha. Foi o diretor Tomaz de Aquino, de O Jardim das Cerejeiras, que, após assistir a uma apresentação do Cabaré, identificou em Diego aspectos relacionados ao movimento oriental. O grupo, então, decidiu se debruçar em um projeto que unisse a inspiração no Butoh ao universo trans.

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Diego e Tomaz, acompanhados por Rodrigo Ferrera e Fabio Vieira, que compõem o elenco, foram selecionados para o Laboratório de Pesquisa Teatral do Porto Iracema das Artes, onde o espetáculo tomou forma. Para o aprofundamento necessário em relação ao Butoh, a tutoria da atriz e pesquisadora Ana Cristina Colla, do grupo Lume Teatro, de Campinas, que já trabalhou com mestres da dança japonesa, foi essencial. “O desejo das Travestidas era beber da fonte do treinamento do Lume vinculado ao Butoh”, explica Ana. Como ensina a atriz, a dança tem princípios bem específicos e se disseminou pelo mundo após a Segunda Guerra Mundial. “Nessa disseminação, o Butoh foi tendo muitas outras caras. O Trans-Ohno não é Butoh. Vamos dizer que a gente bebeu na atmosfera dele”, pondera.


Ao longo da formação, o coletivo chegou a descobrir ligações entre o universo do transformismo e o Butoh, ajudando a aproximá-los. “Há uma travestilidade no Ohno que nos interessou”, conta Fabio. Ana complementa: “Ohno dançava de vestido, chapéu. Há esse híbrido do feminino como parte da dança”. No espetáculo, questões relacionadas ao feminino, à transformação e ao empoderamento viram performances que refletem sobre as maneiras de se opor ao machismo e homofobia da sociedade. “Não fazemos o nosso trabalho por questões políticas, mas é impossível dissociar a arte da politica, é impossível tratar da temática e ignorar o lado ruim, porque ele ainda impera”, reflete Fabio.

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Os recentes casos de Dandara dos Santos e Hérica Izidório, vítimas de transfobia (discriminação a travestis, transexuais e transgêneros), são exemplos da importância de se falar do tema. “O grupo levanta questões importantes e, no momento atual, isso tem que ser discutido, sacudido”, defende Ana. “O caso da Dandara não é isolado. A comoção geral é porque as imagens estão aí. O pessoal vê e finalmente entende, enquanto não via era como se não existisse”, analisa Fabio. “Há uma cena específica no espetáculo, que o Diego construiu, que, lapidando o trabalho, traduzimos como um grito de desespero de todas as mulheres, trans ou não, pela violência sofrida por todas as figuras femininas”, finaliza.

 

SERVIÇO

 

Espetáculo Trans-Ohno

Quando: dias 11, 12, 19, 25 e 26 de março, sempre às 20 horas

Onde: Teatro do Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81)

Quanto: R$20 (inteira)

 
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