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"Tatuzões" frustraram interesses da Odebrecht no Ceará, afirma delator

2017-04-27 01:30:00
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Um dos delatores da Odebrecht, João Pacífico disse que compra de máquinas tuneladoras – os “tatuzões” – pelo governo Cid Gomes (PDT) teria frustrado interesses da empreiteira no Ceará. Em depoimento à Lava Jato, o ex-dirigente disse que a Odebrecht tinha interesse na obra do Metrô de Fortaleza, mas voltou atrás após compra dos equipamentos pelo Estado.


“O metrô, que era uma obra que nos interessava, mas soube pela imprensa que o governador resolveu comprar os Shields, que é o equipamento muito caro e muito específico para túneis, para fazer metrôs. Ele comprou e ia disponibilizar para qualquer empresa que ganhasse a obra”, disse Pacífico. “Com certeza poderia correr sérios riscos”.


O trecho inclui um dos termos de compromisso assinados por Pacífico em delação à Odebrecht. No depoimento, o ex-diretor critica ainda a decisão do governo do Estado, que teria impedido a entrada da Odebrecht na obra. “(Com a compra) você poderia pegar qualquer empresa que nunca tinha feito um túnel e botar para operar”, disse.


A delação está entre os processos que foram remetidos por Fachin para a Justiça Federal do Ceará no início do mês. Até a tarde de ontem, no entanto, as petições ainda não haviam chegado à instância judiciária do Estado.


Compra polêmica

A informação traz novo elemento em torno da polêmica compra, em R$ 138 milhões, dos quatro tatuzões do Metrofor. Adquiridas em 2013 e até hoje sem uso, tuneladoras são alvo de críticas da oposição no Legislativo. Já o governo diz que compra garante maior economia em longo prazo e que equipamentos foram adquiridos com preço bem menor que o de mercado.

 

Segundo o governo, o Estado aguarda apenas repasse de verbas garantidas pelo Governo Federal para concluir o replanejamento e retomada da obra do Metrofor. “As tuneladoras só poderão ser utilizadas normalmente com a retomada dos trabalhos”, diz. Outro fato que atrasa a ação seria a saída de uma das empreiteiras vencedoras da licitação da obra.


O governo destaca, no entanto, que tratativas para a retomada das obras junto ao Governo Federal são “permanentes”. “O secretário da Infraestrutura Lucio Gomes e o secretário de Planejamento, Maia Júnior, estiveram na sede do BNDES (já em abril), no Rio, para tratar da intervenção”, diz.


“Vale ressaltar que, quando do retorno das obras da Linha Leste, todos os equipamentos passarão por manutenções mais complexas que vão garantir o adequado funcionamento dos mesmos”, diz.

 

NÚMEROS

 

R$ 138

milhões foi o valor que o Governo do Estado pagou pelas tuneladoras

 

2013

foi o ano em que as tuneladoras foram compradas para obras do Metrofor

 

R$ 500

mil teria sido o valor da propina recebido por Leão Montezuma

 

Saiba mais


No depoimento, João Pacífico lamenta ainda o pouco sucesso de negociações da Odebrecht com o Governo do Estado. “Nós desistimos, porque a gente tentou várias concorrências, mas não tivemos sorte”, disse. O delator destaca, no entanto, ter fechado um acordo no Ceará: “Infelizmente só tivemos um projeto, que foi o Castanhão”, diz.


Sobre esta obra, delatores da Odebrecht acusam o ex-diretor da Superintendência de Obras Hídricas do Estado, Leão Montezuma, de ter recebido propinas de até R$ 500 mil com relação a obras hídricas. Além disso, delações incluídas na Lista de Fachin incluem ainda acusações de formação de cartel entre empreiteiras para fraudar obras da Arena Castelão e do Transfor.

 

Carlos Mazza

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