O processo contra Marlene mobilizou centenas de pessoas nas redes sociais, além da Associação Nacional de História (Anpuh). Tal mobilização não se limitou aos/às professores/as, historiadores/as e militantes, mas envolveu outras pessoas preocupadas com as tentativas de censura que o caso envolvendo a historiadora representa.
O processo contra Marlene insere-se no contexto de perseguições resultantes do projeto “Escola sem partido”, estando relacionado ainda a outras interdições recentes no campo educacional brasileiro, como a proibição da distribuição de material pedagógico, que pretendia discutir a LGBTfobia nas escolas; a retirada dos termos gênero, homofobia, dentre outros, dos planos estaduais e municiais de educação; a aprovação pelo Senado da não obrigatoriedade do ensino de História, Sociologia e Filosofia no Ensino Médio.
Ora, não se trata, como querem crer os movimentos reacionários, de garantir a liberdade de pensamento e defender crianças e adolescentes contra “doutrinações” por parte de educadores/as filiados/as a pensamentos feministas e de esquerda. Trata-se, na verdade, de evitar os avanços de direitos civis e políticos de mulheres, homossexuais, pessoas trans e negros/as, que lutam para uma existência mais digna. Projetos como “Escola sem partido” buscam manter intactas as estruturas desiguais de nossa sociedade reiteradas em discursos falaciosos como o da meritocracia ou da naturalização de violências e exclusões a partir de dogmas religiosos de grupos conservadores que vêm servindo muito bem a um governo golpista e antipopular.
Cabe a nós nos manifestarmos contra esses retrocessos e ameaças. Cabe a nós construirmos espaços de discussão plural e democrática com atenção à promoção da igualdade de condições e dos direitos humanos. Afinal de contas, por que discutir feminismo e relações de gênero incomoda tanta gente?
Ana Rita Fonteles Duarte
anaritafonteles@uol.com.br
Historiadora (UFC)
Elias Ferreira Veras
eliashistoria@yahoo.com.br
Historiador (Fafidam-Uece)