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O serviço oferecido pelo aplicativo provoca uma concorrência desleal com o setor hoteleiro?
Opinião

O serviço oferecido pelo aplicativo provoca uma concorrência desleal com o setor hoteleiro?

O aplicativo Airbnb, que oferece hospedagem compartilhada, é alvo de polêmica e vem sendo criticado pelo setor hoteleiro. A principal reclamação é que o aplicativo não paga impostos, enquanto os hotéis pagam pessoal, manutenção e tributos.
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SIM

 

O aplicativo Airbnb em todo o mundo, especialmente no Brasil, vem ganhando mais espaços, concorrendo de forma vantajosa com a hotelaria tradicional, a que paga impostos e responde a uma infinidade de exigências e contribui com uma plêiade de impostos, taxas e contribuições - contas essas que passam longe do Airbnb, que nem conhecimento toma delas, pois não lhe dizem respeito, embora funcione como uma verdadeira empresa hoteleira, pois aluga dependências para hospedagem por temporada para pessoas interessadas a custo praticamente zero. Os hotéis, ao contrário, investem em segurança, proteção aos hóspedes, rampas de acesso, dependências especiais para deficientes físicos, manutenção caríssima de suas instalações, cozinhas, cozinheiros, garçons etc. Sem falar em impostos, taxas, licenças, PIS, contribuições, alvarás e outros custos diretos de até difícil enumeração, dada a sua diversidade. Todos esses desembolsos representam um encarecimento bastante substancial à atividade da hotelaria, que procura trabalhar obedecendo à legislação.

 

Os que defendem o aplicativo Airbnb apontam como exemplo a discussão sobre a disputa entre a Uber e os táxis formais. Ora, os táxis, ao contrário dos hotéis, têm vantagens oficiais para funcionar, como a isenção de impostos, a licença para circular em faixas especiais de trânsito, a elevação de preços em horários especiais e em rotas em circuitos menos procurados e outras vantagens, nada disso concedido aos veículos Uber.


Também a hotelaria registra o hóspede com seus dados, idade, procedência, documentos, cartões de crédito, toda a segurança para os demais hóspedes e a vizinhança. Nos contratos pelo aplicativo do Airbnb, não há preocupação com idoneidade e intenções do cliente; não se procura saber sua idade, procedência ou documentos. Pode ser um assaltante, traficante, explorador de menores para fins sexuais, terrorista. Pode oferecer perigo para os vizinhos do apartamento do lado e todo o prédio, circulando entre os moradores formais.


Que fique claro que não somos contrários à concorrência saudável, desde que funcione nas mesmas condições que nossas empresas e oferecendo aos clientes a segurança e o conforto que eles merecem.

 

"Nos contratos pelo Airbnb, não há preocupação com idoneidade do cliente; pode ser um assaltante, traficante, terrorista"

 

Regis Medeiros

regisnm@villamayor.com.br

Presidente do Fortaleza Convention
Bureau e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis Ceará (ABIH-CE)

 

NÃO

As indústrias de transporte e de hospedagem são apenas os primeiros impactados com o crescimento da Economia do Compartilhamento. Outros mercados já dão exemplos claros disso: o EatWith é uma plataforma em que qualquer pessoa cria um cardápio e, em sua própria casa ou onde bem quiser, a um preço predeterminado, abre as portas para quem quiser ir jantar. O feedback é instantâneo, e quem não for bem avaliado, por não ter proporcionado uma experiência adequada às expectativas anunciadas, não será bem recomendado e, logo, não fará parte da rede.

 

Muitas outras plataformas surgirão rapidamente e de forma disruptiva causando toda uma inversão na indústria. No caso do Airbnb, é uma realidade mundialmente aceita: a plataforma foi parceira oficial de hospedagem compartilhada para os jogos olímpicos Rio-2016, estando incluída na plataforma de compra de ingressos. Ser recebido por alguém local, com oportunidade de ler todas as críticas a respeito da experiência antecipadamente, compartilhar o serviço prestado com outras pessoas, tudo isso eleva o controle de qualidade a baixo custo. Frente a isso, a indústria hoteleira precisa reinventar seu modelo de negócio, assim como o setor automobilístico, que está deixando de ter o carro como o centro do negócio para serem empresas de serviços de mobilidade ao cliente, já que os carros autônomos estão chegando ao mercado e serão compartilhados, inclusive sem a necessidade sequer de uma carteira de habilitação.


Quanto aos órgãos públicos, é necessária agilidade para ter, dessa nova economia, uma forma de arrecadação adequada. De fato, a conexão entre consumidores e serviços a partir das novas plataformas está mudando a regulação de mercados e, não diferente disso, operam os serviços de acomodação e hospedagem. Se seu negócio faz parte de um mercado que está sendo afetado pela economia do compartilhamento, está na hora de buscar um novo significado para o que é crescimento na sua empresa.


"A indústria hoteleira precisa reinventar seu modelo de negócio, assim como o setor automobilístico"

 

Hugo Lopes

hugolopes@gmail.com

Professor universitário e diretor das agências Rock Digital e Index

 

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