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Os capeiros são felizes
Economia

Os capeiros são felizes

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No começo, o estagiário ficava exultante quando via na banca o texto das chamadas estampado na capa. É uma glória silenciosa. Afinal, ninguém sabe quem fez e desconfie de jornalista sem vaidade. As chamadas são aqueles textinhos que você lê na primeira página como um resumo do que o recheio do jornal traz. Têm a imensa capacidade de confundir e a serena tarefa de serem claras e atraentes. Um bom capeiro foge da primeira opção. Sim, capeiro. É assim que a gente chama o editor da primeira página. Um codinome que também remete à castração, mas que, em verdade, exige ideias bem férteis.


Um jornal é feito de diversas habilidades. Você pode ser um bom repórter e um mau redator. Ou o contrário. Texto ótimo, mas passional demais. Pode ser um excelente analista, mas pouco afeito ao comando. Pode ser todas as boas opções acima e ainda ter a fundamental habilidade de síntese exigida pela capa. Eis o grande capeiro.


Nos anos 1990, de estagiário a editor de primeira página fui em quase meia década. Pouco. Confiaram em mim (a Ana Márcia Diógenes). Nessa época, eu era assessor do saudoso presidente Demócrito Dummar. Recordo do dia em que fui convidado a acumular as funções – afora outras. Lembrei a ele que a capa fechava meia-noite e que seria dolorido entrar cedo no dia seguinte. No que ele retrucou: “Tranquilo, meu filho! Pode chegar às 9 horas.” Rimos. Nos, creio, cerca de dois anos na capa, dois marcos. Errei uma data da edição e pus uma manchete na dobra de baixo. Já sofri muito bullying por isso. Portanto, mudemos de pauta. A propósito, nenhum jornalista que eu conheça sonha em editar a capa. O faz por necessidade – é um trabalho noturno, conciliável – ou por circunstâncias. Mas, acredite, nestes quase 25 anos de O POVO nunca vi um capeiro infeliz. A gente passa a amar.


Jocélio Leal

Editor-executivo do Núcleo de Negócios
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