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Dois dedos de prosa com Wesley Aragão de Moraes
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Dois dedos de prosa com Wesley Aragão de Moraes

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Com foco no que o indivíduo pode fazer para ser mais saudável no lugar de trabalhar apenas a doença, a salutogênese foi tema de curso no Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec), no fim de semana passado. Conceito ligado à antroposofia, que analisa o homem de forma holística, a salutogênese pode ser aplicada em diversas áreas, sob a perspectiva de como ter mais qualidade de vida. Em Fortaleza para ministrar palestra sobre o tema, o médico Wesley Aragão de Moraes explica nesta entrevista como cada um pode ter atitudes preventivas para ser mais saudável e feliz.


O POVO - O que é a salutogênese?

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Wesley Aragão de Moraes - A salutogênese é uma visão das possibilidades de resiliência do ser humano que começou com um soldado. Ele percebeu que os sobreviventes das guerras tinham capacidade de resiliência muito grande e pensou em como uma pessoa com uma doença ou que passou por uma perda pode reconhecer e desenvolver a resiliência. Isso ele chamou de salutogênese — a base da sanidade não é você não adoecer, mas você se manter de pé mesmo que alguma coisa te derrube. A salutogênese — gênese da saúde, gênese da sanidade —, é esse conjunto de questões e práticas para promover a sanidade, o ser humano saudável em termos biológicos, psicológicos, espirituais, sociais, em vários contextos.

OP - Em que a salutogênese se diferencia da medicina tradicional?


Wesley - No caso da formação do médico, a estrutura de pensamento é muito baseada na patogênese, que é o contrário da salutogênese e trabalha o que é doença, que tipo de doença, como tratar. Não está errado, mas é uma visão baseada no adoecimento, que é real. Enquanto a salutogênese pergunta como fazer para ser cada vez mais saudável e não considera as doenças. As duas abordagens se complementam. O profissional de saúde em geral, tanto médicos como enfermeiros, psicólogos e fisioterapeutas, é treinado para contextualizar as doenças.

O paradigma da salutogênese é incluir uma visão da sanidade.


OP - Como as pessoas podem praticar a salutogênese no cotidiano?


Wesley - A primeira coisa é se informar sobre o assunto, tomar consciência sobre a teoria e avaliar até que ponto tem elementos para colocar isso em prática. E não custa dinheiro: você pode ter uma vida salutogênica com os recursos que tem em casa. É basicamente: como eu vou tornar minha vida mais saudável? Para você fazer essa pergunta você precisa se questionar se sua vida está saudável. Avaliar alimentação, rotina diária, nível de atividade física, elementos biológicos e psicológicos. Você trabalha sob tensão, tem estresse no trabalho, está satisfeito no trabalho? O seu relacionamento e amizades estão legais? O que tá faltando? Está feliz? Existe isso a nível sociopolítico. O governo do Butão criou o índice de felicidade bruta. Vão às casas e perguntam se as pessoas estão felizes. Trabalhar o ser saudável de forma mais holística.

OP - De que forma os profissionais da saúde podem atuar a partir dessa visão?


Wesley - Primeiro tirando do foco, sem excluir, a visão patogenética de que uma pessoa vai procurar um profissional de saúde para se curar de uma doença. É preciso ter uma visão mais ampla de que não é só esse o papel do profissional de saúde. Despertar a consciência sobre qualidade de vida, relações, alimentação, bons hábitos e não só focalizar na doença.

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