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Música. Valsa Carinhoso completa 100 anos
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Música. Valsa Carinhoso completa 100 anos

Com a ajuda de letras que caíram no gosto popular, duas melodias de Pixinguinha se tornaram unanimidade nacional. Rosa e Carinhoso completam 100 anos
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“Meu coração, não sei” por que, bate feliz quando te vê...” É praticamente impossível ouvir os versos iniciais de Carinhoso e não sair cantando. Curiosamente, a melodia composta em 1917 não impressionou seu próprio autor. Pixinguinha deixou o choro guardado até 1928, quando, enfim, foi gravada pela Orquestra Típica Pixinguinha-Donga e recebeu muitas críticas pelas influências de “ritmos e melodias de jazz”.
 

“Ele passou muito tempo para mostrar Carinhoso por que só tinha duas partes, mas todo choro tinha três partes. Para a época, era fazer um choro errado. Hoje já se compõe choro em duas partes, mas o primeiro foi ele”, aponta o flautista cearense Marcelo Leite. A melodia de fácil apelo popular e ar romântico, mereceu algumas regravações, mas sua ousadia estética só mereceu sucesso popular depois de ganhar a inesquecível letra de Braguinha.
 

“É um musicão, daqueles que a gente se encanta quando para para olhar. Agora ela teve essa difusão incrível por causa da maravilhosa letra que pegou o espírito da melodia. Para quem não é acostumado ao instrumental, vai pegar o espírito dessa letra. É um casamento perfeito”, analisa a musicista Bia Paes Leme sobre uma das faixas mais regravadas da história da MPB.
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Mesmo a versão instrumental de Carinhoso tornou-se um artigo obrigatório em rodas de choro. “É um dos hinos do Brasil. Parece simples, mas é incrivelmente rica melodicamente, harmonicamente”, aponta Carlinhos Patriolino, instrumentista. “É como a Aquarela do Brasil, tem um peso. Além da letra ser maravilhosa, a melodia todo mundo conhece. É fabulosa”, compara o trombonista Rômulo Santiago.
 

Outra composição de Pixinguinha que teve uma força da letra para tornar-se sucesso foi Rosa. A valsa nasceu com o nome de Evocação. Em 1917, quando Otávio de Sousa, um mecânico amigo de Pixinguinha, colocou nela versos pomposos de forte apelo romântico, a composição ganhou novo nome e sua primeira gravação, ainda instrumental. Em 1937, Orlando Silva estreou a letra em disco – no outro lado do 78 rotações estava Carinhoso. Décadas depois, foi a vez de Marisa Monte apresentar a valsa para as novas gerações. É Pixinguinha insistindo em se manter vivo na memória nacional. (Marcos Sampaio)

 

OS BATUTAS
 

O mundo quer conhecer nossa batucada
No início do século passado, apresentar ao mundo o trabalho de um artista exigia um esforço que muitas vezes dava em nada além de boas histórias. Assim foi a viagem que Os Batutas fizeram para a Europa em 1922. A banda era uma das muitas formações que Pixinguinha integrou na época, junto com Donga, seu irmão China e outros.


A viagem foi iniciativa de um dentista baiano que fez fama na Europa como dançarino de maxixe e chamou o grupo brasileiro para se apresentar no dancing Sherazade, em Paris. “Ficamos na nossa: samba, choro e maxixe. Não tínhamos a ousadia de tocar uma valsa”, lembrou Pixinguinha sobre o episódio que também envolveu muita boemia, nenhuma gravação que se tenha conhecimento e uma cobertura mínima da imprensa.
 

Outra história que virou lenda da carreira internacional do artista é o álbum Native Brazilian Music. Reunindo gente como Cartola, Jararaca, João da Bahiana e Zé da Zilda, o álbum foi uma iniciativa da “política da boa vizinhança”, quando o governo brasileiro buscava uma aproximação com os EUA por conta da sombra da Segunda Guerra Mundial. Nessa ideia, o maestro Leopold Stokowski, um entusiasta da música brasileira, pediu que Villa-Lobos reunisse um time de luminares nacionais para uma gravação.
 

As sessões aconteceram a bordo do navio S.S. Uruguay, que estava atracado na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, na noite de 7 de agosto de 1940. Das cerca de 40 faixas gravadas, 17 ficaram no disco e oito estariam guardadas nos arquivos da Sony Music. As demais se perderam. Lançado somente nos EUA, o álbum teve repercussão quase nula no Brasil, a despeito do elenco que o integrou. 

 

 

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