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O coxo cego e o cego coxo

01:30 | 25/02/2017

Dessa vez, irmão Tonhão engabelou direitinho a plateia com seus concertos milagrosos. Ainda bem, pois da vez passada, ao ordenar jogar fora as muletas e andar, o paralítico desconhecido estatelou-se no chão, quebrou o pau da venta, furou a cabeça e desmentiu a bolacha do joelho. Vaiado, pastor quase apanha.

Agora precavido, tomou todos os cuidados. Utilizando apurados artifícios psicológicos subliminares, ludibriou a massa de fiéis sequiosa de moleza na solução de graves problemas. Escolheu a dedo o cego (normal das pernas) e o coxo (bacana da vista) para foco de suas conjeturas.

Dizendo que na sessão de curas do dia a presença de Deus far-se-ia sem dúvidas, ante silêncio sepulcral da galera, instou para depois ordenar:

- Ceguinho! Queres ficar curado do aleijão das pernas?

- Claro, irmão Tonhão! – respondeu o falto de vista, sugestionado pela pergunta capciosa e contundente do religioso loroteiro.

- Pois larga os óculos escuros e anda! Em nome de Jesus, anda!!!

E o ceguinho sai do palco a andar, chocando-se contra o povo e pedindo desculpas. A multidão grita: “Ave, Cristo!” E todos ficam maravilhados.

A seguir, chamando a si o coxo, indaga para logo após impor:

- Coxo! Queres a cura de tua cegueira dos olhos?

- Claro, irmão Tonhão! – respondeu o paralítico, igualmente induzido.

- Pois larga as muletas, olhe pra mim e diga e diga sem rir, sem pestanejar: quem tu vês à tua frente? Quem tu vês?

O aleijado responde sem problemas:

- Um papangu, senhor! Vejo um papangu!!!

E a multidão extasiada grita a uma só voz: “Milagre! Bendito seja o Senhor!”

O sujo falando do mal lavado

Metido a barão, Gildão da Varjota está diariamente na farmácia de seu Hugo. Chega às 7 horas pra curiar novidades da indústria de remédios e comprar o de sempre pra velhas mazelas – cefaleias, gastralgias, dermatoses, pneumonias. De dentro do estabelecimento, a vista corre atenta e inflamada, anotando amiúde os escândalos do mundo. É pródigo na crítica, no julgamento, na condenação, na fofocagem, na falação de mal e na fulerage de toda sorte.

Enquanto atendido pelo balconista, observa pobretão dele conhecido, o laborioso Atanásio Cai Pra Trás, morador do Lagamar, que todo dia chega a pé à padaria colada à farmácia, de mãos dadas com o caçula Atanásio Júnior. No domingo de chuva último, o comentário infeliz de Gildão consigo:

- Coitado do Atanásio! Do Lagamar pra cá deve ser uns 20 quarteirões! Ele e o filho. E o que lasca agora: debaixo dum aguaceiro desses! Que lástima!

Cai Pra Trás, sempre reparando Gildão da Varjota naquela farmácia, freguês contumaz, fala à cria acompanhante:

- Pra que tanto dinheiro, se ‘veve’ doente? Nós, ao menos, é só a vitamina do pão que vem buscar aqui...

Jair Morais, o questionador

 

- Prezado jornalista! Se temos a bionergia, a bioética e a biodiversidade, por que não o bioboi?

- Bioenergia, energia obtida através da biomassa, eu sei o que é. Mas, bioboi...

- Energia obtida através do chifre. Matéria-prima temos à bambão, e com o preço do quilowatt/hora como está...

Adriano Nogueira

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