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Manias, quem não as tem?
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Manias, quem não as tem?


Caminhando celeremente pela estrada do tempo para me transformar em prioridade, constato que o rol de minhas manias não só se tornou mais agudo como também aumentou, incorporando costumes esquisitos e peculiaridades que dizem muito da cabeça e da alma de quem o possui. Um ser humano pode ser descrito por suas excentricidades, estou certo. O jeito de andar, de colocar a comida no prato, o modo de encarar os outros, os trejeitos são pessoais e intransferíveis como um convite para uma festa de 15 anos. Nossa passagem pela vida, em vez de corrigi-los, somente refina os hábitos, sejam eles positivos ou negativos, virtuosos ou reprováveis. “O estilo é o homem”, disse certa vez um nobre, observador das coisas do mundo, de cujo nome não me lembro mais. Por artes de Deus ou do Demo, Frank Sinatra canta My Way lá fora...


Gosto de ler jornal em papel, logo cedo de manhã, a tinta sujando a ponta dos dedos ávidos por notícias. Meu celular é peba e velho, do tipo “hello, goodbye”. No guarda-roupa, calças jeans, preta e cáqui, camisas branca, azul-celeste, de risca, cor-de-rosa, meias e sapatos pretos, blazer marinho. Tenho fotos antigas minhas, ainda menino, vestido do mesmo jeito. Na mesa, o café é amargo, o pão só com muita manteiga, ovos mexidos, embutidos, os tais tira-gostos emocionantes nos fins de semana. Cerveja com cachaça para rebater, a famosa sopinha do Zé Matias, é o menu alcoólico desde sempre. Fujo, qual vampiro da luz solar, de shopping center, da medicina, de papo de telefone, de tele-marketing, dos especialistas em tudologia, do cinema brasileiro. Filmes de faroeste e gangster, blues, jazz, samba, choro, bolero, rock de vera, aí, sim.


Arrumar a cama logo depois de acordar, o lençol cuidadosamente dobrado por cima dos travesseiros. Preferir o táxi comum ao Uber. No ônibus, ir sentado na cadeirinha do artilheiro. Usar copos diferentes para cada tipo de bebida. Gostar dos cheiros de gasolina, de carro novo, de livro, de milho cozido ou assado, de chuva. Manter a mesa de trabalho lotada de papéis os mais diversos, arrumados segundo a ortogonalidade do móvel. Ter o mascote do Vozão ao lado do computador. Usar tampa de caneta Bic para tirar cera do
ouvido. Fazer provocação no Facebook sem dar resposta. Tocar um pouco de violão entre uma tarefa e outra. Atravessar a rua entre os carros, desprezando a faixa de pedestres. Trazer muitas moedas na carteira. Pagar contas à vista. Não tolerar animais. Fazer croquis de projetos irrealizáveis. Claro, abusar das reticências...


Como se vê, minha lista é imensa. Imaginem se aqui abrisse a caixa das esquisitices inconfessáveis... Cada doido com a sua obsessão. Ou não terá o(a) caro(a) leitor(a) a sua? Como disse o Cazuza, “de perto ninguém é normal”. Se é assim, curtamos nossos modos de ser como digitais de nossa personalidade. Beber uísque com guaraná Wilson (ainda existe?), torcer Ferrim, tentar convencer coxinha a aceitar o golpe, ser freguês do cai-duro da Praça da Estação, cutucar onça com vara curta são comportamentos perigosos, até insalubres. Há outros, talvez mais amenos: andar com dinheiro trocado, não passar sem o caldo de cana e o pastel da Leão do Sul, falar difícil entremeando as frases com termos em inglês e francês, encher os bolsos com poemas que jamais serão publicados, as abrideiras antes do almoço, escrever crônicas...


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