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As condições em que Tasso fica no comando tucano

2017-08-05 01:30:00

Foi cheia de meandros a decisão do PSDB de manter Tasso Jereissati (PSDB) na presidência interina do partido. O senador cearense entrou quando Aécio Neves, titular da função, foi afastado pela Justiça depois de flagrado em gravações de teor muito suspeito, para dizer o mínimo.


Aécio reassumiu o mandato de senador, mas não retornou ao comando do partido. Tasso, não é de hoje, defende o distanciamento em relação ao governo Temer. Na presidência interina, deu peso à ala do partido favorável a essa posição. Ocorre que Aécio, nos últimos dias, articulou intensamente no sentido oposto. Foi quando Tasso disse que iria devolver o cargo ao mineiro.


“Ele estava afastado das funções políticas, agora ele recuperou a plenitude de suas funções políticas. Não tem razão para interinidade”, disse Tasso. Uma óbvia queixa: se está no cargo, ainda que em caráter interino, o cearense preside o partido. Se Aécio quer ditar os rumos, que retome a função que é sua, é o que Tasso deixa entreler. E tem razão. Por mais que não se goste do tucano, ele nunca teve vocação para posições decorativas.


Porém, Aécio não tem condições de presidir partido nenhum, que dirá um que pretende eleger presidente da República daqui a um ano. Seria a desmoralização definitiva reassumir a presidência do partido alguém tão enrolado com a Justiça como está Aécio.


Assim, a decisão de manter Tasso, obviamente, passa por algum nível de pacto acerca dos espaços de cada um, da atuação e da autoridade do presidente, mesmo na interinidade. Capítulo ainda do enredo do partido indeciso entre ficar ou sair do governo, e que se desgastou mais que qualquer outro na votação que barrou a investigação contra Temer. Reflexo justamente dessa disputa.


AUTOCRÍTICA

Tasso é quase uma voz dissonante dentro da alta cúpula do PSDB. Dos principais caciques, dois não estão enrolados em denúncias: o prefeito paulistano João Dória e Tasso. Os demais estão todos complicados: Aécio nem se fala, mas também José Serra e Geraldo Alckmin. Sobre Fernando Henrique Cardoso, faz um mês que foi arquivada investigação baseada no acordo de delação de Emílio Odebrecht. Não necessariamente por o ex-presidente ser inocente, mas porque o juiz entendeu que o crime já estaria prescrito. Assim, enquanto a maioria do tucanato está mais preocupada em se livrar das acusações, Tasso pressiona em relação ao distanciamento das práticas que levaram a isso.

“Erramos muito. O partido nasceu de um movimento de pessoas que saíram do PMDB por oposição a uma política quercista que era muito parecida com a de hoje. (...) Todos esses princípios que levaram à fundação do partido, há 30 anos, foram sendo abandonados. Nos misturamos com essa política do fisiologismo que gera corrupção. Entramos nesse jogo. Hoje temos que reconhecer isso e voltar a ser uma alternativa para o País”, disse em entrevista à jornalista Míriam Leitão, na Globonews.


EM FAMÍLIAS

Eudoro Santana será o coordenador do Pacto por um Ceará Sustentável. Ex-deputado estadual, superintendente do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), ele é pai do governador Camilo Santana (PT) e não receberá nada pela tarefa, conforme foi anunciado nesta semana.

O modelo lembra a época em que Ciro Gomes (PDT), irmão do então governador Cid Gomes (PDT), passou a prestar “consultoria” na Secretaria da Segurança Pública, também sem salário e de maneira informal.


RESULTADO PASSADO

Por mais que não goste de familiares com poder em governos, tampouco de colaborações amadoras em funções estratégicas, hei de admitir que, com Ciro Gomes na segurança, pelo menos deu resultado. Não necessariamente por causa dele. Nunca ficou muito claro o que ele fez dentro da SSPDS. Mas logo após o fim da consultoria, o secretário Francisco Bezerra caiu. Entrou Servilho Paiva, que promoveu série de mudanças. Foi quando o número de homicídios parou de subir.

MODELO REPLICADO

O Ceará Sustentável é o segundo dos pactos dos “sete Cearás” dos quais Camilo Santana falava em seu programa. Até o fim do ano, pretende lançar o Ceará Saudável. Ficarão faltando outros três.

 

A referência primeira é o Ceará Pacífico. No setor em que atua, a segurança, os indicadores melhoraram por dois anos, mas desde o início de 2017 degringolaram de vez.

O conceito, de toda maneira, é correto. Lançar olhar intersetorial, envolvendo várias instituições que perpassam o tema. O problema é que, muitas vezes, as reuniões acabam sendo encontros protocolares, em que os gargalos e impasses reais não são confrontados e abordados.


Esses espaços podem ser muito úteis se houver coragem para colocar os problemas na mesa, cobrar os responsáveis e construir soluções. Se forem encontros de comadres, será pura perda de tempo. Mais sobre o assunto neste link: http://bit.ly/pactosce

 

Érico Firmo

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