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A escalada do horror

2017-08-15 01:30:00
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A perseguição contra os judeus foi a mais terrível violência do século XX e a mais nefasta entre tantas obras do nazismo. Sofreram a mais brutal e raivosa perseguição, da propaganda difamatória aos assassinatos em si. Mas, tragicamente, não foram os únicos alvos. Berlim é repleta de monumentos a diferentes etnias e grupos sociais que foram vítimas do nazismo. A dimensão do horror que espalharam talvez não seja compreendida em sua amplitude.


Há espaços dedicados à memória dos gays, dos ciganos, dos doentes psiquiátricos… Sem falar de outros tantos que nem sempre são homenageados ou lembrados, em espaços próprios ou não: negros, comunistas, testemunhas de Jeová, eslavos, maçons… Incrível como grupo político foi capaz de conceber e por em prática plano de destruição contra tantos povos, segmentos, perfis. E, ainda assim, esteve perto de conquistar o mundo. É difícil ter noção da amplitude do horror que foi o nazismo. Tão amplo e extremo que soa irreal. A junção de todo o mal do mundo. Parece exagero. Esse é o perigo.


Um horror que me toma sempre que leio a respeito é a convicção de que pode acontecer de novo. A memória vai se distanciando, o revisionismo coloca em questão muitas coisas. Neonazistas sempre estiveram por aí, não é disso que estou falando. Falo de, em duas ou três gerações, essas ideias deixarem de estar restritas a grupelhos intolerantes e terem chances reais de poder. Hoje faz 72 anos da rendição japonesa, que encerrou a Segunda Guerra Mundial. Pouco tempo demais para essa memória parecer tão distante. As testemunhas ainda estão aí. Suas vozes seguem presentes quando já ecoam os pensamentos de ódio. Falei de duas ou três gerações. Episódios como os do fim de semana, no qual supremacistas brancos espalharam violência no sul dos Estados Unidos, fazem temer que seja antes. O evento tinha como mote “unir a direita”, e agregar conservadores radicais para frear o avanço de ideais progressistas.


O que está acontecendo é grave, gravíssimo. A postura do presidente americano Donald Trump é assustadora e reveladora das inclinações ou ao menos da tolerância do hoje homem mais poderoso do mundo.


São tempos perigosos. Tais concepções só podem emergir em tempos de crise, desesperança e medo. Nem sempre se firmam pela força, embora a agressividade esteja sempre em seu discurso e postura. Mas, na Alemanha, o voto os levou ao poder. O perigo nos ronda. A única arma de que dispomos é a memória do que ocorreu, a compreensão do que se passou e a consciência crítica de que o espectro ainda está à espreita e guarda nele o pior do mundo.

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ANOTEM

Não demora: vai aparecer cavalgadura, no Ceará mesmo, para defender supremacistas brancos. Se é que já não apareceu e eu não vi.

 

DIMENSÃO DA VIOLÊNCIA

Nunca houve tantos homicídios no Ceará quanto no último mês de julho. Outros indicadores também pioraram: roubos, furtos. A situação vai de mal a pior. O quadro dos presídios está fora de controle. O mês passado teve talvez o pior conjunto de estatísticas de segurança pública de todos os tempos.

Do ponto de vista político, para o governo, a situação só não está pior porque a Polícia evitou a fuga de Antônio Jussivan Alves, o Alemão, da Penitenciária de Pacatuba. Teria sido monumental baque para Camilo Santana (PT).


Alemão é o líder do crime de maior repercussão já praticado no Ceará. Caso tivesse conseguido fugir de um dos presídios mais seguros do Ceará - se o Estado tivesse se mostrado incapaz de manter atrás das grades até um detento com esse calibre - as forças de segurança e Justiça estariam desmoralizadas. A notícia do fiasco cearense rodaria o Brasil, com ecos pelo mundo.


A ação foi ousada e a data escolhida, o aniversário de 12 anos do assalto, mostra requinte até na opção pelo simbolismo. Os policiais e agentes envolvidos agiram bem em todos os sentidos. Evitaram a fuga e recapturaram os presos com vida. Não teria sido difícil, em ação como essa, que algum ímpeto justiceiro cuidasse de providenciar a morte do Alemão, que estava mesmo perto de conseguir relaxamento de pena. Isso não ocorreu. Nem deveria ser merecedor de aplauso, mas sim a rotina. Na vida real, a postura merece elogio. Além do cumprimento do dever de forma irretocável, evitaram problemão político para o governador, em área que tem sido calcanhar de Aquiles de todas as administrações.

Érico Firmo

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