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A banalização do selo urgente
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A banalização do selo urgente

 

Tânia Alves

 

O POVO mantém um serviço inovador de enviar, por meio de uma lista de WhatsApp, notícias das principais acontecimentos do dia. O serviço é remetido religiosamente pela manhã e à noite, de forma gratuita. Às vezes, também despacha inserção extra com alguma notícia mais quente, como foi o caso da segunda-feira passada (26/6) quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou o presidente Michel Temer por corrupção ou ainda, no dia seguinte (27/6), após o pronunciamento do presidente Michel Temer, que refutou as acusações e atacou o procurador. Apresento o trabalho feito na lista para comentar sobre um episódio que hoje é utilizado por muitas plataformas digitais para chamar a atenção dos leitores e que vem sendo utilizado de forma banal: o selo “Urgente!”.


Na terça-feira, foi distribuída na lista de WhatsApp do O POVO notícia com o título “Moro pode anunciar sentença de Lula a qualquer momento”. Logo acima da informação vinha o adjetivo ‘Urgente!’, sinalizado pela figurinha de uma bola vermelha. A informação havia sido gerada pela agência italiana Ansa e estava em muitos portais. Nela não havia nada de urgente, pois, após receber as alegações finais dos advogados de defesa, o juiz já pode dar a sentença. É de praxe. A imprensa já havia noticiado que o último dia para receber as alegações finais da defesa era aquele. O título dava também a ideia de que a sentença poderia sair dali a alguns instantes. Até a manhã deste sábado (1/7), o juiz Sergio Moro não havia proferido a sentença. O que era a qualquer momento se transformou em uma semana inteira. Neste caso, o selo só cabia como subterfúgio para chamar atenção.

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O urgente em jornalismo sempre existiu. É da natureza da profissão, pois notícia pressupõe novidade, atualização. Porém na era digital está se disseminando de tal forma que acaba perdendo o sentido. Beira a banalidade. Tudo é urgente. Desde a nomeação de uma procuradora-geral de Justiça, passando pela aprovação da reforma trabalhista em uma comissão da Câmara Federal, até um cantor ser indiciado por suposta agressão à mulher. Que urgência é esta? O urgente se justifica em grandes catástrofes, em uma notícia capaz de mudar o curso da história. Seja ela local, seja nacional, seja mundial. A derrubada das Torres Gêmeas nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, por exemplo. Naquele dia, o impresso do O POVO saiu com uma justificada edição extra ainda na tarde do dia 11 de setembro. Quando o papa Bento XIV decidiu renunciar ao pontificado, em 11 de fevereiro de 2013, era Carnaval no Brasil. O POVO não circulava naquele dia, mas a Redação se reuniu e publicou uma edição extra online. Este é o sentido mais próximo do urgente. A última renúncia de um papa havia acontecido há quase 600 anos. Era sem precedente na história recente da Igreja Católica.


A rotina do urgente já está tão intricada no noticiário online que uma mesma notícia que aparece como urgente numa plataforma também se transforma em urgente no concorrente. No mesmo dia, várias “urgências” aparecem. É o jornalismo digital baseado na uniformização e na repetição da notícia. Na rapidez, na instantaneidade e na atualidade em busca de alcance. É lógico que o jornalismo se transformou com o advento da rede, em que tudo acontece num piscar de olhos. Porém, ele precisa manter a essência. Essa urgência em tudo pode resultar em distorção capaz de transformar uma banalidade em acontecimento. A banalização pode levar ao desinteresse no futuro próximo. O mais importante: fatalmente culminará com a perda da credibilidade.


REPETIÇÃO DE ERRO POR DOIS DIAS SEGUIDOS

Uma informação imprecisa envolvendo números na matéria “Oito deputados cearenses declaram voto a favor da denúncia”, publicada na quarta-feira passada (28/6), em Política, foi fonte de manifestação de leitores que se mostraram incomodados com o equívoco. O conteúdo informava que, para barrar o andamento da investigação, o presidente Michel Temer precisava de 342 votos na Câmara Federal, quando na verdade este número representa a quantidade de votos para que o processo tenha andamento. O erro estava no texto principal e em um quadro. “Quando envolve número, vocês colocam sempre o contrário. Os 342 votos são necessários para continuar o processo”, disse um leitor, ressaltando ainda que o fato afeta a credibilidade do jornal. Outro perguntou: “Esses 342 votos não são para acolhimento da denúncia?”

No mesmo dia, após envio da análise interna para a Redação, a repórter que havia feito a matéria disse que a informação fora corrigida na matéria publicada no Portal O POVO e que estava providenciando uma correção que, de fato, constava na edição de quinta-feira passada (29/6). Só que parece que a Redação anda pouca atenta ao que se debate internamente. No mesmo dia em que foi publicada a retificação na seção “Erramos”, a Redação de novo se embananou - no mesmo número. Naquele dia, um quadro, na matéria “Em meio a instabilidade Temer inicia batalha”, publicada na editoria Política, voltou a informar que 342 votos (2/3 dos 513 deputados) eram necessários para derrubar o processo contra o presidente. Quando na verdade para não aceitar a denúncia é necessário 1/3 dos votos dos deputados, ou seja, 172 votos. A desatenção resultou num vexame, pois foi necessário corrigir o mesmo erro em dois dias seguidos.


PARA ACIONAR A OMBUDSMAN

Os leitores das diversas plataformas do O POVO podem entrar em contato com a ouvidoria pelo WhatsAapp (85) 988 93 98 07; por email (ombudsman@opovo.com.br) e telefone fixo (3255 6181). O leitor pode ainda visitar a ombudsman se necessário. Basta ligar e agendar.

 

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