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Ideias de esquerda voltam a ganhar terreno

2017-07-15 17:00:00
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Pesquisa do Instituto Datafolha mediu a “inclinação ideológica” no País, mostrando o crescimento do apoio entre os eleitores às ideias identificadas com a esquerda no espectro ideológico. O Instituto fez 2.771 entrevistas de 21 a 23 de junho deste ano. A comparação foi feita com pesquisa semelhante realizada em 2014.


O Datafolha considerou cinco grupos na escala ideológica: esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita. Pelo somatório, direita e centro representam 40% da população (eram 45% na pesquisa de 2014); o centro-esquerda aumentou de 35% para 41%; o centro manteve-se estável, com 20%.

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Observou-se, por exemplo, grande crescimento - de 58% para 77% - entre os que acreditam na seguinte afirmação: “Boa parte da pobreza está ligada à falta de oportunidades iguais para que todos possam subir na vida” (posição identificada com a esquerda). Quanto ao enunciado “boa parte da pobreza está ligada à preguiça de pessoas que não querem trabalhar” (posição mais identificada com a direita), caiu de 37% para 21%. Isso deve ter provocado horror nos que veem na “meritocracia” a varinha mágica para solucionar problemas sociais.


Também aumentou a aceitação da homossexualidade (64% para 74%) e o sentimento de que “a maior causa da criminalidade é a falta de oportunidades iguais para todos”, de 36% para 41% - posições normalmente defendidas pela esquerda.


O interessante é que esse levantamento do Datafolha foi divulgado três meses depois de uma pesquisa qualitativa da Fundação Perseu Abramo (ligada ao PT) ter vindo a público.


A FPA tentava entender o comportamento de eleitores que votaram em Lula de 2000 a 2012, mas deixaram de votar em Dilma na eleição presidencial de 2014 e negaram voto a Fernando Haddad nas eleições paulistanas de 2016. O levantamento foi feito na periferia de São Paulo, entre pessoas com renda entre dois a cinco salários mínimos.


A FPA anotou na análise do estudo que “no imaginário da população” não há luta de classes; o “inimigo” seria, em grande medida, o próprio Estado ineficaz e incompetente. Assim, ficaria aberto espaço para o “liberalismo popular”, com demanda de “menos Estado”. Revelou-se, ainda, que os pesquisados valorizam o mérito pessoal, admirando pessoas que melhoram de vida por esforço próprio.


O resultado fez economistas, sociólogos liberais e jornais conservadores baterem bumbo, afirmando que as ideias de direita ganhavam terreno, mesmo entre os pobres e a classe média baixa, “os batalhadores brasileiros”, segmento que ascendeu nos governos petistas.


Porém à direita passaram despercebidas as nuanças do estudo e o público específico consultado (a periferia de São Paulo). Ao tempo, por exemplo, que os pesquisados rejeitavam as cotas - pois estas parecem “duvidar” da capacidade das pessoas -, defendiam a importância do programa Bolsa Família, o que demonstra contradição ou falta de entendimento, pois os dois mecanismos têm o mesmo objetivo. Enfim, a direita viu a árvore pensando que estava vendo a floresta.


Mesmo com a imprensa conservadora atacando as ideias de esquerda dia e noite, sem nenhuma trégua, a pesquisa do Datafolha revela a capacidade das pessoas em pensar por si próprias, quando cotejam suas vidas com a realidade.


A propósito, não trata este artigo de fazer a defesa do PT, porém das ideias de esquerda, aquelas que combatem por um mundo mais justo, mais igualitário e mais democrático.


Esquerda e direita


Para quem entende que os conceitos de “direita” e “esquerda” deixaram de fazer sentido, sugiro a leitura de “Direita e esquerda - Razões e significados de uma distinção política”, livro de Norberto Bobbio.

Segundo o filósofo italiano, a esquerda visa, essencialmente, promover a igualdade entre os seres humanos, lutando por mudanças sociais.

Para a direita, a desigualdade seria algo natural, intrínseca aos homens, portanto, bastaria a “meritocracia”, o esforço individual, para promover aqueles que merecem.


Igualdade


Igualdade não significa uniformização: todos os seres humanos são iguais, porém diferentes entre si.


Crédito


Folha de S. Paulo: “Cresce apoio a ideias próximas à esquerda, aponta Datafolha” (https://goo.gl/2VCFrq); Fundação Perseu Abramo: “Percepções e valores políticos nas periferias de São Paulo” (https://goo.gl/V7jaAh).

Adriano Nogueira

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