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Receita de doce de goiaba branca

17:00 | 12/08/2017
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No quintal lá de casa, existia uma goiabeira. Não, não, tinham três pés de goiaba. Duas, mais velhas do que eu, davam goiabas vermelhas.


Outra, mais miudinha e talvez de minha idade, ensaiava cargas raras de goiabas brancas. Uma admiração naqueles anos. E, posso estar enganado, nunca mais vi um pé de goiaba branca em Fortaleza.


Talvez porque foram acabando os quintais, derrubando as matas dos bairros, os mangueirais de lavar a burra quando chegava o tempo da manga.


Talvez porque não tenhamos, mesmo, vocação para quintais nem paciência com goiabeiras e outras árvores.


Lembro, as goiabeiras eram da família também. Parentes de sangue e um socorro em tempo de pindaíbas. Quando o mês acochava e havia goiabas nos pés, não se passava fome.


Goiaba madura ou de vez comida no galho à mão; suco de goiaba; doce de bandas de goiaba... E dindim de goiaba quando lá em casa, finalmente, chegou uma geladeira.


Socorriam, mas também eram dadas às brincadeiras. Aprendi a trepar com as goiabeiras, me balançar, subir e descer, cair e quebrar o braço.

 

Ir lá em cima, no olho, e alongar o bairro de telhados, quintais, árvores e cachorros do meio da rua.


Havia também as histórias dos ninhos. Uma surpresa encontrar aquele outro mundo. Tão pequeno e tão vasto. Outra possibilidade de existir alguém. Inquilino da Terra, tão daqui quanto nós.


Se eu tinha direito a uma casa de tijolo para nascer, morar, almoçar numa mesa de seis irmãos e me proteger quando a noite vinha, quem estava no ninho também era assim.


Palha por palha, galho por galho e um entrançado engenhoso de sibite.

Arquitetura de bem-te-vi, ovo de rolinha, canto de pitiguari, desconfiança de rouxinol. Tinham direito, também, sobre o quintal e as goiabeiras.

 


Sei que menino (mais que menina) sempre teve a malinação por querer ficar com os filhotes, de arrancar o ninho para guardar. De dizer que tinha posse daquele mundo passarinho, porque viu primeiro e se apoderou.


Homem tem dessas imbecilidades de achar que tem poder sobre os ninhos e as goiabeiras...


De querer ser dono do rio, mandão das águas, engarrafador do vento, engaiolador de passarinhos, loteador da Terra, asfaltador do caminhos... Dono até das palavras dos outros.


Mas, depois, a gente vai entendendo que ninho é casa igual a nossa. Lar do mesmo jeito, varrido e abençoado. Lugar de nascimentos. Ninguém tem direito de passar um trator por cima deles...


E sobre a receita do doce de goiaba branca, prometida no título dessa crônica Cidade? Escrevo numa outra vez. Por hoje é o que tenho sobre Fortaleza e as goiabeiras e os quintais que vão sumindo...

 

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